Não nos enganemos com a “casa
de Mãe Joana”
Luciano
Siqueira
A demissão do secretário da Receita Federal, Marcos Cintra,
explicitadamente por haver desobedecido a uma ordem do presidente da República,
mais uma dentre várias nos escalões superiores do governo pelo mesmo motivo,
gera contrariedade em uns— no mercado, em especial — e comentários jocosos da
parte de outros.
Eu mesmo escrevi algo assim no Twitter, denominando o governo de
“casa de mãe Joana” — expressão tipicamente nordestina que se aplica a algum
grupo ou instituição em que muita gente manda e ninguém acerta o prumo.
Mas no caso do atual governo é um exagero e uma impropriedade.
Que o presidente é despreparado, confuso e inconsequente é
óbvio. Porém alguém manda e sabe o que pretende fazer, nominadamente a equipe
econômica, que executa a agenda ultraliberal apoiada na maioria parlamentar
sensível a essa agenda.
Desse modo, não basta ridicularizar desacertos e descaminhos do
presidente e de seus ajudantes mais próximos. É preciso acompanhar
diligentemente o conjunto da obra e oferecer apreciação crítica abrangente e
aprofundada.
E na ação política persistir no esforço de juntar forças capazes
de convergirem em torno de uma plataforma comum.
Seja no parlamento, onde sempre é possível explorar com
habilidade contradições e divergências no campo governista; seja através da
mobilização da sociedade.
Nesse sentido, subestimar a importância da coalizão
(marcadamente ampla e plural) que lançou o manifesto “Direito Já - Fórum pela
Democracia”, em São Paulo, no último dia 3, revela miopia política e sectarismo
inconsequente.
Pois não se dificulta a implementação da agenda ultraliberal —
antinacional e antipopular, incompatível com a democracia — e muito menos se a
interdita, sem uma oposição com o desenho revelado no ato acontecido no Tuca,
em São Paulo.
O povo brasileiro vem pagando muito caro pelas consequências
dessa concepção tática estreita e atrasada — para citar o período mais recente,
do impeachment da presidenta Dilma à eleição de Bolsonaro.
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