Flamengo mostra que
outro jeito de jogar futebol é possível no Brasil
Tostão, na Folha de S. Paulo
Independentemente do desenho tático, uma importante estratégia
cada vez mais frequente, embora seja ainda pouco usada, é a marcação
agressiva sem fazer falta.
Ela ocorre em todo o campo, desde o goleiro. O time que marca
mira quem está com a bola, para, rapidamente, recuperá-la. Para isso, é
necessário treinamento, ter disciplina tática e ótimo preparo físico.
Na Copa de 1974, há 45 anos, a Holanda encantou o mundo com essa
postura. Onde estivesse a bola, havia vários holandeses. Já como treinador, Johan Cruyff,
estrela daquele time, levou a marcação por pressão para o Barcelona, onde se
tornou um dos pilares da grande equipe comandada por Pep Guardiola.
Nos anos 1980, o técnico italiano Arrigo Sacchi fez o mesmo no
Milan, com sucesso. Outros treinadores, de vez em quando, tentavam fazer o
mesmo e desistiam. Hoje, os dois melhores times coletivos do mundo, Manchester City
e Liverpool, marcam dessa forma durante todo o jogo.
O Flamengo, além de tantas qualidades, tem dado show de
eficiência na recuperação da
bola.
O Santos, com Sampaoli, tenta fazer o mesmo. Os times que jogam
dessa maneira são mais vibrantes e inflamam o torcedor, que apoia ainda mais a
equipe. Cria-se um ciclo positivo de grande entusiasmo. O Flamengo, no
Maracanã, é uma festa, um sonho para o torcedor. A vida é sonho. O restante são
descuidos.
Milton Leite, no Redação SporTV, perguntou se um técnico
brasileiro, com o ótimo elenco do Flamengo, faria o mesmo. Eu não sei.
Acrescento outra pergunta, porque Jorge Jesus nunca dirigiu uma outra grande
equipe europeia fora de Portugal, como vários treinadores portugueses?
Jorge Jesus, com sua sinceridade e vaidade, sem falsa modéstia,
disse que ele não é um técnico que tem ideias europeias, e sim um treinador que
tem ideias diferentes dos europeus.
A maioria dos times de todo o mundo, especialmente os pequenos,
quando jogam contra os grandes, adota a marcação mais recuada, para fechar os
espaços, com duas linhas de quatro, às vezes, uma de quatro e outra de cinco,
para, depois, contra-atacar. Ficam longe do outro gol.
Essa marcação começou na Copa de 1966, com a Inglaterra. No
Brasil, há mais de dez anos, o Corinthians,
com Mano Menezes, seguido por Tite e, agora, por Carille, adotou essa postura,
com sucesso, que se propagou para todos os outros treinadores brasileiros.
Passou a ser uma marca de nosso futebol. Cansou. O torcedor e a imprensa querem
outro futebol, ainda mais depois de ver o Flamengo.
Muitos técnicos brasileiros e europeus alternam os dois tipos de
marcação, de acordo com o momento do jogo, como Tiago Nunes no Athletico. Porém
o que predomina no Brasil é o medo de pressionar e de deixar grandes espaços na
defesa. Preferem dar a bola ao adversário e recuar. Não gostam da bola.
No amistoso contra
Senegal, o Brasil, durante uns 20 minutos, pressionou quem estava
com a bola, ficou com ela, fez um gol e parou. Já o time africano, durante todo
o jogo, teve mais posse de bola, mais chances de gol e desarmou com facilidade
—o principal motivo de o Brasil não conseguir trocar passes. Fiquei preocupado.
A dificuldade não é mais somente enfrentar as melhores seleções do mundo.
O Brasil, a melhor seleção do mundo em amistosos, por jogar com
mais seriedade e escalar quase sempre os titulares, não venceu os três últimos
compromissos. Empatou com Senegal e Colômbia e perdeu para o Peru. Fiquei ainda
mais preocupado. Espero que hoje jogue bem e vença a Nigéria.
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