Flamengo é
referência de bom futebol no Brasil, mas não no mundo
Tostão, Folha de
S. Paulo
Quando critico a maneira de atuar da maioria dos times
brasileiros, que marcam muito atrás, longe do outro gol, e trocam poucos
passes, não significa que exista apenas uma forma de jogo eficiente e que seja
fácil marcar mais à frente, pressionando em todo o campo. É difícil, além de
aumentar os riscos. Assim jogou o Cruzeiro,
pelo menos até fazer o gol, contra o São Paulo, o que antes nunca acontecia.
Para essa marcação por pressão funcionar bem, é necessário um
time compacto, sincronizado, com ótimo preparo físico e, geralmente, com mais
tempo para treinar, o que não foi preciso no Flamengo.
Outros técnicos tentaram fazer o mesmo no Brasil, nos últimos
anos, e não deram certo. Apesar de alguns momentos brilhantes, tentar essa
marcação mais à frente e com troca de passes desde o goleiro é uma das razões
dos maus resultados de Fernando Diniz.
O São Paulo ainda não mostrou a cara do técnico. Não mudou nada.
Outros treinadores, como Cristóvão Borges, no Corinthians, Alberto Valentim, no Palmeiras, e Levir Culpi, no Atlético,
tentaram fazer a marcação adiantada e logo perderam o emprego.
Por sempre jogar recuado fora de casa, para tentar
contra-atacar, sem sucesso, Odair Hellmann foi dispensado, ainda mais com a
perda do título da Copa do Brasil,
da eliminação na Libertadores e de não estar entre os quatro primeiros no Brasileiro.
O Inter, ajudado pelo bom trabalho de Odair, criou uma
expectativa acima da realidade, voltou ao normal, e o próprio técnico pagou o
pato. É sempre assim.
Não gosto de zagueiros colados à grande área, como é habitual no
Brasil, nem de zagueiros no meio-campo. Prefiro um posicionamento
intermediário, com os defensores um pouco mais à frente, na mesma distância da
grande área e do centro do gramado. Assim, o espaço nas costas dos zagueiros
não é tão grande —dá tempo de o goleiro sair na cobertura—, e o time não fica
tão longe do outro gol.
Recuar, dar a bola ao adversário e contra-atacar com eficiência
é uma estratégia que, muitas vezes, dá certo, ainda mais em equipes inferiores
aos adversários. É o caso do Bahia. O time não joga na retranca. O clube, além
de ir muito bem no campo, possui uma administração moderna, humana e
competente.
Tão ou mais importante que a estratégia das equipes é o Brasil
formar mais jogadores com talento individual e coletivo, melhores no passe, na
finalização, na marcação, na capacidade de enxergar o conjunto e com mais
lucidez nas decisões. Há um grande número de jogadores apenas habilidosos e
velozes, porém com pouca técnica.
Grêmio, Athletico e Santos alternam a marcação mais recuada e a
mais adiantada, em um mesmo jogo, sem a intensidade do Flamengo.
Contra o Ceará, Sampaoli escalou
três zagueiros e dois pontas pelos lados, como alas, em vez de laterais,
esquema que Guardiola usa com frequência. Não funcionou bem, e o técnico
colocou dois laterais e tirou um zagueiro. A equipe cresceu. Diferentemente de Jorge Jesus,
Sampaoli troca demais de jogadores e de tática. Muitas vezes, dá errado.
Se não existisse o atual Flamengo, o Palmeiras seria o líder e
bastante elogiado, mesmo com críticas pontuais, como ocorreu no ano passado,
quando jogava um futebol de qualidade parecida com o time deste ano e foi
campeão brasileiro.
O Flamengo criou uma nova referência
de bom futebol no Brasil, mas não dá para compará-lo aos melhores times do
mundo, como tentam fazer. Cada um em seu lugar.
[Ilustração: Alemberg Quindins]
Acesse o canal ‘Luciano Siqueira opina’, no YouTube https://bit.ly/2mMLpgP
Leia mais sobre temas da atualidade: https://bit.ly/2Jl5xwF
Nenhum comentário:
Postar um comentário