Muito
problemático, mas é o que temos
Luciano Siqueira
Como subproduto institucional da crise brasileira, a afirmação
do Supremo Tribunal Federal (STF) como instância definitiva para temas os mais
diversos, de diferentes status, e foco da grande mídia.
Sessões as mais diversas do STF são transmitidas ao vivo por
todas as mídias, marcadas por debates que, ao olhar do leigo, mostram-se
intermináveis e espetacularizados.
Certamente isso não é bom.
O STF é guardião da Constituição. Melhor seria, certamente,
que preservasse a discrição, que ministros não concedessem entrevistas acerca
de questões em exame.
Melhor ainda é que sequer dessem entrevistas, em favor de um
traço solene da corte que deveria se manter.
Diz-se que os integrantes da Suprema Corte dos EUA, por exemplo,
comumente só concedem duas entrevistas: uma quando assumem a função, a outra
quando se aposentam. Sobre matérias em julgamento, pronunciam-se apenas e tão
somente nos autos.
No Brasil, não será surpresa constatar que para boa parte da população
sabe-se mais da composição do STF do que mesmo da lista de convocados da
seleção de futebol.
Matérias que parecem pétreas, pois consolidadas estaria o seu
exame pregresso, voltam à tona e ganham nova interpretação, via de regra por maioria
de um voto, gerando dúvidas e inseguranças no conjunto da sociedade.
Entretanto, no atual quadro de instabilidade e de constantes ameaças
à democracia e de ataques explícitos à Constituição por alguns dos que juraram
defendê-la, o STF é o que temos.
Tirante a resistência da sociedade, que tende a crescer,
ainda é o STF o último guardião da Constituição.
Há que respeitá-lo. Ataques velados ou públicos, no sentido
de pressionar este ou aquele ministro ou o conjunto da corte a tomar tal ou
qual decisão não condiz com a manutenção da ordem democrática.
Nem militares de alta patente, como o ex-ministro do Exército
general Villas Boas, nem parlamentares falastrões e pouco qualificados, nem os
monopólios midiáticos estão autorizados pela norma democrática e pelo bom senso
a tratarem o STF como frequentemente vêm tratando.
Pois agora é o que acontece, mais uma vez, por parte da
grande mídia monopolizada a serviço de poderosos interesses econômicos e da
regressão política, quando o STF deve reiniciar o julgamento das Ações Diretas
de Constitucionalidade, inclusive a ADC 54, impetrada pelo PCdoB, que diz
respeito à presunção de inocência garantida no artigo 5º da Constituição.
E o mínimo que o STF pode fazer agora é a firmar a sua
independência e não se submeter a tais pressões.
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