Governo corta 158 mil do Bolsa Família; 61% do Nordeste
Mesmo em meio à crise social gerada pela pandemia da doença Covid-19, ministério excluiu famílias e Nordeste voltou a ser a região mais afetada.
Portal Vermelho
O Ministério da Cidadania começou ontem a
pagar a folha do mês de março aos beneficiários do programa Bolsa Família. Ao
contrário da promessa de ampliar o programa em meio à crise social gerada pela
doença Covid-19, o governo federal fez um corte de 158.452 bolsas.
O Nordeste voltou a ser a região mais afetada. Dos 158,4 mil
benefícios a menos em março, 96.861 (ou 61,1% do total) foram retirados
justamente da região que responde por metade dos benefícios totais do país.
Em janeiro, das famílias
que ingressaram no programa, apenas 3% eram do Nordeste, o que gerou uma série
de críticas. O número de beneficiários é o menor do governo Jair Bolsonaro e o
menor desde maio de 2017, quando o Bolsa Família teve o maior corte da história
do programa — 543 mil bolsas foram retiradas.
Segundo o ministério, a redução ocorreu porque novas 185 mil
famílias ingressaram no programa, mas 330 mil “se emanciparam” por apresentarem
evolução nas condições financeiras, “ou seja, superaram as condições
necessárias para a manutenção do benefício”.
“É importante destacar
ainda que os cancelamentos estão relacionados aos procedimentos rotineiros de
averiguação e revisão cadastrais”, diz a pasta.
O Bolsa Família atende
famílias que vivem em situação de extrema pobreza, com renda per capita de até
R$ 89 mensais, e de pobreza, com renda entre R$ 89,01 e R$ 178 mensais. Se a
renda per capita for maior do que isso, a família é retirada do programa.
Ainda segundo a pasta, “vale lembrar que o número de
beneficiários flutua a cada mês em virtude dos processos de inclusão, exclusão
e manutenção de famílias”. Segundo o ministério, o valor médio do benefício
subiu de R$ 190,75 para R$ 191,86 em março.
Em fevereiro, o novo
ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, anunciou, durante live com o presidente
Jair Bolsonaro, o ingresso de novas 185 mil famílias no programa. Segundo o
ministério, essas famílias estão na folha de março.
Segundo o ministério,
como medida de enfrentamento aos impactos do coronavírus, o governo anunciou um
reforço no Bolsa Família, com a inclusão de 1,2 milhão de famílias
beneficiadas, que hoje estão na fila de espera.
Cortes aumentam miséria
O doutor em Economia
Social e pesquisador do Bolsa Família, Cícero Péricles de Carvalho, diz estar
surpreso com a folha de março e com a explicação dada pelo ministério, já que o
momento exigiria uma rápida ação para aumentar a renda das famílias pobres.
“Impressiona que, num
momento em que todos os países afetados pela epidemia estão ampliando suas
políticas sociais como forma de enfrentar os impactos da crise nos setores mais
pobres da população, o governo brasileiro reduza a cobertura no seu mais eficiente
programa de combate à pobreza”, opina.
Ele critica o fato de a maioria dos cortes ocorrer justamente no
Nordeste. “A região tem apenas 27% da população brasileira, e teve 60% dos
cortes. É um contrassenso”, avalia.
Sobre a justificativa do
ministério de emancipação de 330 mil famílias, Carvalho contesta. “A redução da
cobertura não combina em nada com o momento em que vive o país, com aumento da
informalidade no mercado de trabalho e crescimento do número de pobres, como
informa o IBGE, na Síntese de Indicadores Sociais”, explica. (Fonte: UOL)
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