Rumo aos últimos quinze dias
Luciano Siqueira
Nunca assino embaixo de tudo o que analistas e
marqueteiros dizem, apoiados em dados de pesquisas, acerca do desenrolar de uma
eleição. Eu os respeito, sim; mas em geral deixam escapar variáveis de natureza
política propriamente dita, com as quais têm dificuldade de lidar.
Entretanto, tenho dado crédito a uma opinião que esses profissionais têm
divulgado, convergente entre eles: o pleito este ano se definirá nos últimos
quinze dias, pois as pesquisas revelam que mais de 50% dos eleitores tendem a
se definir na reta final. Muito mais do que em eleições passadas.
Não é a descoberta da pólvora. São considerações procedentes em razão das
peculiaridades da atual campanha eleitoral, determinadas sobretudo pela
pandemia do novo coronavírus.
A relação entre a variável tempo e a conquista do voto sofre alterações, ainda
que o fator determinante do desenlace da disputa repouse na real correlação de
forças.
Mas, como nos ensina Marx no 18 Brumário, o curso da cena política
frequentemente é determinado por fatores objetivos que escapam à vontade dos
principais atores em presença.
Ou, na apreciação de Engels, o acaso tem o seu lugar no evolver de uma disputa.
Muita coisa pode acontecer até o dia 15 de novembro, inclusive fatos novos que,
por enquanto, quase imperceptíveis, vêm sendo alimentados embaixo da superfície
visível, que nem fogo de monturo.
Assim, forças aparentemente poderosas e imbatíveis poderão ser surpreendidas
precisamente na freta final da disputa, quando consertar erros ou reagir à
surpresa não é fácil, o tempo será curto.
Aqui em território pernambucano vi acontecer algumas vezes, como no pleito de
2000, em que no Recife e Olinda, respectivamente, ocorreram vitórias espetaculares
de João Paulo (então no PT, hoje candidato a prefeito de Olinda pelo PCdoB) e
Luciana Santos (PCdoB), enfrentando coalizões poderosas em volume de apoios e
de meios.
Assim, mais do que o entusiasmo voluntarista é necessário cotejar todos os
fatores em presença, identificar onde residem as fragilidades do adversário
principal, ajustar o discurso, concentrar energias e focar as ações de campanha
numa atividade que, por sua natureza, possibilite circular em todo o território
da cidade, como as minicarretas.
Óbvio? Nem tanto, pois não são poucas as campanhas que ainda tentam atacar em
todas as frentes, sem ter pernas para tanto.
Definir o gume do ataque e maximizar ações mais simples impõe-se agora, rumo
aos últimos quinze dias da peleja.
Veja: Razão e emoção na campanha eleitoral https://bit.ly/3d9XgLy
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