As lições do fracasso do ultraliberalismo latino-americano
O despertar do
Chile, as eleições na Bolivia, o fracasso de Macri, na Argentina, ainda não
foram suficientes para despertar a chamada inteligentzia brasileira.
Luis Nassif,
Jornal GGN
A definição abaixo está em um blog de Análise de Economia em
Tempo Real.
O aluno entra no curso de
economia e aprender como agentes racionais atuam em mercados sem atrito,
produzindo um resultado que é melhor para todos. Só mais tarde aprender as
distorções e perversidades que caracterizam o comportamento econômico real,
como práticas anticompetitivas ou mercado financeiros instáveis. Conforma os
alunos avançam, há uma tendência crescente para a elegância matemática. Quando
o mundo real, mais feio, se intromete, levanta-se uma questão central: isso
está muito bem na prática, mas como funciona na teoria?
Há muito tempo, a economia tornou-se uma arma de guerra
ideológica. Por analisar fenômenos complexos, permite as chamadas carteiradas
acadêmica, o sujeito escudando-se em um diploma em faculdade conceituada,
expondo relações de causalidade claramente falsas, que não resistem à mais leve
observação empírica.
Foi assim no Chile de Pinochet. Se reduzir o Estado, privatizar
a Previdência, os serviços de saúde, as estatais, haverá um dinamismo econômico
em que todos ganharão. 40 anos depois, os chilenos encaram o fracasso e a
incapacidade do Estado nacional de oferecer segurança aos seus cidadãos.
Um plebiscito aprovou uma Constituinte exclusiva para definir um
novo modelo de país, reinstituindo direitos e garantias fundamentais, abolidos
com a privatização selvagem que acometeu o país.
Mas chama a atenção a demora em reverter o desenho instituído
pelo ditador Pinochet. Passaram pelo poder vários presidentes de
centro-esquerda. Qual a razão para tanta demora em corrigir falhas que eram nítidas
há décadas?
Aí entra um ponto complicado. O
modelo Pinochet consolidou grandes grupos financeiros, que adquiriram enorme
poder de influência no Estado. Foi necessário uma crise da proporção da atual
para remover essas resistências.
O mesmo aconteceu com o Brasil em todo o período Lula-Dilma.
Avançaram-se em várias políticas sociais relevantes. Mas os pontos
macroeconômicos centrais – políticas monetária e cambial – foram mantidos
intocados, para não descontentar o enorme poder político conquistado pelo setor
financeiro.
Acontece que esse tipo de modelo ultraliberal – inaugurado
mundialmente no Chile de Pinochet e na Argentina dos generais e, depois, de
governos peronistas, não tem viabilidade política porque não atende a dois
princípios básicos: 1. Promover o desenvolvimento; 2. Promover bem estar
social.
Não se alcançam esses objetivos, devido ao foco central dessas
políticas, que é atender às demandas dos grandes grupos, o que passa pela
redução dos gastos sociais, pelos cortes em políticas de desenvolvimento, pela
privatização selvagem, sem analisar os impactos sobre a economia em geral. Sem
a atuação do Estado, o capitalismo tende à concentração econômica e não há
maneiras de consolidar políticas sociais.
As políticas econômicas se tornam totalmente subordinadas aos
interesses imediatos do capital financeiro e a incapacidade de afrontar esses
interesses faz com que os governos não se vejam com condições de corrigir o
rumo da política econômica, para impedir grandes desastres. Foi assim com José
Alfredo Martinez de Hoz, Ministro da Economia do regime militar argentino; e
com Domingo Cavallo, Ministro da Economia do governo Menem. O objetivo único é
subordinar as políticas monetária e cambial aos interesses dos grupos de
influência e desmontar todo serviço público que possa interessar ao setor
privado, como educação, saúde, segurança.
A repetição dos erros se deve, primeiro, à dificuldade do
cidadão comum entender relações de causa e efeito de medidas econômicas. Por
exemplo, como explicar ao cidadão americano comum que a economia explodindo no
início do governo Trump se devia a medidas tomadas, antes, por Barak Obama?
O despertar do Chile, as eleições na Bolivia, o fracasso de
Macri, na Argentina, ainda não foram suficientes para despertar a chamada
inteligentzia brasileira. A enorme mediocridade dos principais poderes –
Supremo, mídia, Congresso, Forças Armadas -, a influência intocada do mercado,
fará com que a ficha só caia mais adiante, após mais alguns anos do mais longo
processo de recessão inútil da história.
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