Um solo para o Jabuti
“A
indicação ao Jabuti já é um reconhecimento. E estar na finalíssima, ao lado de
tantas mulheres que admiro, melhor ainda”, comemora Cida Pedrosa
Claudia Parente, portal Vermelho
O livro Solo para vialejo, de Cida Pedrosa, foi indicado ao prêmio Jabuti 2020, na categoria Poesia. É a primeira vez que a poeta (ou poetisa, como queiram os puristas) que veio lá de Bodocó, no Sertão pernambucano, para viver no Recife na segunda metade da década de 1970, concorre à renomada premiação.
“A indicação ao Jabuti já é um reconhecimento. E estar na finalíssima, ao lado de tantas mulheres que admiro, melhor ainda”, comemora Cida Pedrosa, fazendo questão de ressaltar que o prêmio é extremamente equânime do ponto de vista de gênero. “Também estou feliz por estar dividindo essa honraria com Bel Puã, uma jovem e talentosa poetisa negra pernambucana.”
O livro de 128 páginas é um poema único, uma viagem para dentro, no sentido inverso daquele percorrido por Cida quando deixou a terra natal para tentar a vida na capital. Dessa feita, ela volta com os negros e negras que foram sendo empurrados do litoral para o interior. Contempla a geografia do Estado, a partir das cidades que beiram a BR-232 até chegar à pedra do Claranã, em Bodocó, mas se detém mesmo é na cultura, mostrando como os negros seguiram os rastros dos índios e se miscigenaram, dando origem a novos ritmos como o xote, um lamento sertanejo aparentado com o blues entoado pelos negros também oprimidos do hemisfério Norte americano.
Curioso
(e ousado) é Cida usar uma corruptela no título desse longo poema épico para
expressar, fielmente, a fala do sertanejo, que nunca aprendeu a dizer
“realejo”, aquela gaita tão ouvida antigamente nas feiras das pequenas cidades
sertanejas ou em dias de festa de padroeiro. O vialejo, que ela não aprendeu a
tocar, ainda ecoa em suas memórias e nas páginas do livro, na lembrança do pai,
no espectro de Lampião. Cida é estreante no Jabuti, mas já foi finalista do
prêmio Oceanos de Literatura, com o livro Claranã, em 2016. Ao todo, são dez
livros publicados, nos quais sempre figuram as questões sociais, a mulher, a
dimensão humana, o espaço urbano, o ofício poético e as interfaces entre a
literatura e outras artes. Na última obra “Estesia”, lançada em formato
digital, Cida usa o haicai para falar da pandemia da Covid-19 e desnuda o
Recife em tempos de incertezas e agravamento de problemas conhecidos pelos
moradores da cidade, como a fome, a precarização do trabalho, a solidão… Sem
dúvida, essa sertaneja, advogada, poetisa, militante da cultura, do direitos
das mulheres e do meio ambiente também é uma das vozes mais expressivas de sua
geração.
Veja: A
vida não se resume num samba curto https://bit.ly/3hN3UrP
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