04 fevereiro 2008

Uma opinião (abalizada) sobre frevo

Amemos nosso frevo
José Amaro Santos da Silva
Professor do Departamento de Música da UFPE

A propósito da preocupação de alguns foliões, em torno de uma desvirtuação que está ocorrendo quanto à aceleração do ritmo do frevo, neste momento carnavalesco que estamos vivenciando, se faz necessário abrir uma discussão para por ordem nessa alteração de andamento que vem sendo paulatinamente perpetrada, tornando isso uma coisa prejudicial à forma musical, ao passista com alterações anatômicas no seu corpo, aos músicos que executam instrumentos de maneira inadequada, deformando a sua anatomia física, além de causar prejuízos de ordem estética ao próprio ritmo pernambucano.

Já há algum tempo que, com a responsabilidade que temos como formador de opinião, vimos chamando a atenção dos nossos alunos, em sala de aula, quanto a essa aberração que alguns chefes de orquestra vêm contribuindo para deformar o nosso emblemático ritmo carnavalesco.
Toda essa alteração e essa correria desenfreada no ritmo do frevo que vem ocorrendo existe, possivelmente, em nome de uma modernização dessa música carnavalesca defendida por alguns neófitos.

Quando fomos músico trombonista na orquestra do maestro Nelson Ferreira, lembramo-nos a preocupação que tinha o maestro Nelson, naqueles momentos em que a percussão de sua orquestra começava a desembestar, para usar um termo mais apropriado, e Nelson "chamava na grande" os seus percussionistas, trazendo-os para o centro e senso rítmico daquilo que representava um movimento para ser dançado e não para produzir correrias frenéticas de robôs.

A personalidade em manter o ritmo original do frevo é nossa, enquanto pernambucanos, mesmo que se lhe adicione modismos jazzísticos para se admirar o virtuosismo de alguns instrumentistas, mas não imitar aquilo que fazem os baianos, que não têm a tradição da dança cadenciada, nascida dos diversos passos da capoeira, pois esta era uma tradição de Pernambuco, mas, por uma estúpida perseguição da Igreja e de repressão policial, no século XIX, fizeram com que a capoeira emigrasse para o território baiano que registraram como sendo originária de lá, figurando, portanto, em qualquer cartão postal da Bahia.

Lamentamos que alguns dos nossos maestros, como Duda, que começou a aderir a essa aberração frenética e desembestada do ritmo, ao gravar o disco "Centenário Levino Ferreira”, LP 00290 - CEMCAPE, destruindo a essência dos frevos daquele saudoso compositor. Bem diferente, entretanto, está na gravação feita por José Meneses e sua orquestra, com o título "Frevo Vivo de Levino", LP - 90.008 da Mocambo-Rozemblit, onde se encontra respeitada toda inspiração do "Mestre Vivo".

Quanto à alegação de alguns que temos de modernizar o frevo, ora, Nelson Ferreira quando compôs frevos como "Gostosinho", "Porta Estandarte", "Vem Frevendo", e entre outros, "Qual é o tom" , ele já colocava esse título para chamar a atenção do uso do atonalismo preconizado por Arnold Schoemberg, no início do século XX, quando o líder da Escola de Viena lançou as bases de uma nova estética musical.

Os discursos em torno de um modernismo, alterando o que é mais sagrado no ritmo pernambucano, são equivocados e demonstra que os discurseiros não têm o mínimo de conhecimento histórico e estético da nossa música, levando o nosso frevo a um descalabro inconseqüente, quando o segredo e o tal modernismo estaria na composição das melodias, nas harmonias escolhidas e na distribuição instrumental. É isso.

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