02 novembro 2008

Lembrando Teotônio

No Vermelho, por Eduardo Bomfim:
Andanças de um republicano

Se Gustavo Doré vivesse no Brasil não precisaria quebrar a cabeça para desenhar o D. Quixote de Cervantes: bastaria ir ao Senado para descobrir Teotônio Vilela. Magro, seco, desengonçado, com quase dois metros de altura e possuía para com a democracia o mesmo respeito e veneração que o Quixote pela sua Dulcinéia.

Assim iniciava o jornalista Carlos Chagas o seu prefácio ao livro “A Pregação da Liberdade, andanças de um liberal”, coletânea de discursos e entrevistas do senador Teotônio Vilella entre 1973 e 1976.

O que provoca admiração e desejo de uma investigação intelectual em relação ao itinerário desse homem público, que foi Teotônio, é, ao lado da sua biografia conhecida por todos os brasileiros, as razões intelectuais que o fizeram se distanciar da pacata e cômoda existência de um político das elites em uma circunstância de autoritarismo institucional.

Era um regime que lhe beneficiaria, sem sobressaltos, uma tranqüila atividade de industrial do açúcar ao lado do exercício, razoavelmente garantido, de senador. E quando a ditadura se mostrasse caquética, moribunda, poderia muito bem iniciar uma confortável transição política que lhe garantisse a continuidade do seu ofício parlamentar e empresarial.

Foi se desentendendo cada vez mais com o governo autoritário, custando-lhe inicialmente a perseguição à sua atividade de usineiro e posteriormente a aberta hostilidade ao seu mandato de senador. Se o regime perdurasse alguns anos a mais, seguramente seria preso ou cassado.

Por razões da militância política e do imponderável da luta, fui testemunha de inúmeras observações e opiniões de bastidores do “velho senador”. Ouvi muito o seu febril entusiasmo pela redemocratização, a causa da anistia, a luta popular, o projeto de um Brasil soberano e desenvolvido.

Teotônio Vilella tinha certeza, por exemplo, da força do movimento estudantil, a quem apoiou intensamente, aberta e veladamente, nos enfrentamentos decisivos contra a ditadura. Sabia que aquela nova geração de combatentes seria decisiva naquele presente e muito importante ao futuro do país. Acertou plenamente.

Preferiu a aliança com os bons escritores brasileiros, com os intelectuais da resistência, os encarcerados, os partidos clandestinos, os exilados, os operários do ABC, com os empresários patriotas.

Eu creio mesmo é que ele fez um pacto de sangue com os republicanos da revolução francesa que habitavam aos montes a sua enorme biblioteca no bairro da Gruta de Lurdes em Maceió.

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