11 novembro 2009

Artigo semanal no Blog de Jamildo (JC Online)

Entre a unidade política e o estilo de cada um
Luciano Siqueira


Sinceramente, tem coisas que cansam a gente. Uma delas é essa insistência de alguns “analistas” em comparar o estilo de Lula com o de Dilma, buscando achar na ministra sinais de que estaria tentando reproduzir, na linguagem e no gesto, traços de comportamento do presidente. Pior: que isso teria importância na disputa eleitoral de 2010, com importante peso específico.

Qualquer iniciante em política sabe que imitações não convencem o eleitor. Tudo soa artificial e ridículo.

Nem me parece que a ministra, de quem se pode dizer tudo, inclusive que não tem experiência eleitoral, menos que seja boba, desejaria converte-se em arremedo do presidente. Tem inteligência e bom senso suficientes para não cair numa dessas.

E por que então a bobagem se faz recorrente em parte da mídia? Como não cabe subestimar a capacidade de discernimento de ninguém, resta a hipótese de que, conscientemente ou não, quem bate nessa tecla foge do principal: o conteúdo do projeto político. Aí, sim, há mais do que semelhanças; há uma profunda identidade entre o que Lula representa e o que Dilma pretende representar, se eleita presidente da República: um novo projeto de desenvolvimento do país – que Lula descortina e Dilma pretende concretizar com contornos mais nítidos.

De outra parte, na oposição, ainda que o discurso permaneça insosso e confuso, a tendência natural, seja com Serra ou com Aécio, é apresentar uma mescla de “era FHC” com a defesa do crescimento econômico, numa espécie de neoliberalismo enrustido. Coisas tipo Estado mínimo, liberdade ampla ao mercado, redução de gastos públicos a qualquer custo, metas inflacionárias em primeiro lugar. E, naturalmente, para não perder a pose, a defesa da moralidade pública (sic) com ares de Vestal.

Melhor que assim seja. E que entre a identidade política e o estilo de cada um se reconheça o que há de semelhante e o que há de diferente. E se foque a atenção na identidade política – de Serra ou Aécio com o antecessor de Lula; de Dilma com o presidente atual.

Se na campanha isso ficar claro, ganhe ou não característica plebiscitária o pleito – mesmo com a existência de outras candidaturas -, será ótimo para o amadurecimento da democracia no país, na esteira da elevação do nível de consciência política do eleitorado. Para desgosto de “analistas” mais afeitos às aparências do que à essência e excessivamente apegados a perfumarias...

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