23 agosto 2010

Meu artigo semanal no site da Revista Algomais

Gravidez precoce e opressão de gênero
Luciano Siqueira


Reportagem publicada há uns três anos, se não me engano, no Jornal do Commercio, assinada por Verônica Almeida, revela que no Recife mulheres de 10 a 19 anos dão à luz cinco mil crianças ao ano (estatística da Secretaria Estadual de Saúde referente a 2001). No conjunto do Estado de Pernambuco, esse número atinge 39 mil crianças ao ano.

O fenômeno ocorre em todo o País e é visto por estudiosos da matéria como uma verdadeira epidemia. Na rede pública, aproximadamente 25% dos partos realizados atualmente são de adolescentes. Segundo Gilberto Dimenstein, colunista da Folha de S. Paulo, considerando-se a evolução do problema na última década, é possível afirmar que anualmente o Brasil ganha mais um milhão de mães precoces – que se tornam jovens fragilizadas na escola e no mercado de trabalho.

Debate-se o assunto sob muitos ângulos. Na área da saúde, há serviços especializados onde mulheres adolescentes e jovens grávidas recebem atenção médica e orientação. O governo federal anunciou dias atrás uma providência salutar: a distribuição em massa de camisinhas nas escolas como parte de um programa de educação sexual.

Ações como essa, entrosadas com outros programas focados na juventude – como o Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, e outros de natureza educacional e cultural – certamente contribuem, direta ou indiretamente, para amainar a incidência da gravidez precoce. Pelo menos é o que dizem os especialistas.

Tudo bem. Mas há um elemento de conteúdo que deveria permear todos esses programas, sobretudo os que têm como foco a adolescente grávida: a questão de gênero. Pois diversos estudos revelam que mesmo os jovens bem informados sobre os métodos contraceptivos e os riscos da gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis, na sua grande maioria, preferem não usar camisinha.

Pura insensatez? Em parte, sim. Mas principalmente muito preconceito, que acaba penalizando a mulher. Inúmeros depoimentos de meninas dão conta de que seus parceiros não aceitam usar a camisinha. E elas acabam se submetendo à exigência deles – uma atitude que tem tudo a ver com a opressão de gênero. O machismo casado com a submissão feminina.

Eis aí mais uma razão para que a luta pela igualdade de gêneros guarde uma relação de transversalidade com todas – todas mesmo! – as políticas públicas, especialmente as que se direcionam à juventude.

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