A luta do povo como as ondas do mar
Luciano Siqueira
Publicado no Blog da Revista Algomais
O repórter me faz a mesma pergunta ouvida de um aluno de curso médio: “O povo brasileiro perdeu a vontade de lutar?” Isso porque, segundo ambos, hoje a gente vê pouca passeata, as greves não são tantas e assim por diante, diferente de outros momentos.
Primeiro é preciso anotar que sempre há luta, em vários segmentos sociais e lugares. Conflitos no campo nunca deixaram de existir, tanto que, segundo a Comissão Pastoral da Terra, tem se mantido o índice elevado de mortes de trabalhadores no entrechoque com latifundiários e seus jagunços - 25 assassinatos e 71 pessoas torturadas em 2009. O mesmo se dá com o movimento operário e de funcionários públicos, professores principalmente. Segundo o Valor Econômico (numa edição de outubro passado), o número de categorias cujos trabalhadores cruzaram os braços para alcançar suas reivindicações trabalhistas aumentou 42% entre 2005 e o ano passado, quando foram registradas 516 greves no país - número mais elevado desde as 525 registradas em 2000. Em geral vitoriosas.
Mesmo o movimento estudantil universitário e secundarista, que desde a assunção de Lula à presidência da República conhece fase sem precedentes de acúmulo de conquistas, vendo reivindicações históricas atendidas, não abaixa suas bandeiras e até as torna politicamente mais elevadas. São recorrentes as manifestações patrocinadas pela UNE (União Nacional dos Estudantes) e pela UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas) contra a política macroenômica, exigindo a queda das taxas de juros como forma de destravar a produção. Ou por 50% dos recursos advindos da exploração do petróleo e do gás da camada do pré-sal para a educação.
É que a luta do povo se desenvolve feito as ondas do mar. Há momentos em que ondas pequenas se somam a outras de porte médio, se sucedem, acumulam volume e ímpeto e se agigantam. Depois se inicia novo ciclo de acúmulo.
Na luta popular e democrática é o que chamamos de período de descenso – quando as lutas praticamente se extinguem, por fraqueza do movimento ou pela ausência de liberdade -; períodos de reanimação e períodos de ascenso.
Onde há contradição, inevitavelmente há luta – surda ou aberta, cumulativa ou explosiva. É uma lei objetiva, que move a História – e também a trajetória do povo brasileiro.
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