Partido midiático, força relativa
Luciano Siqueira
Tenho em mãos um exemplar da última edição da revista Carta Capital, cuja matéria de capa é “O escândalo Serra”, a propósito das graves denúncias contida no livro-reportagem “A privataria tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Como assinala a revista, trata das “maracutaias das privatizações, fartamente documentadas”. Impressiona o teor da reportagem, em contraste com o silêncio comprometedor da grande mídia useira e vezeira do denuncismo sensacionalista tendo como alvo personalidades e instituições situadas à esquerda do espectro político ou pertencentes ou vinculadas de algum modo a governos de orientação democrática e progressista.
É um absurdo que se mantenha silenciosos colunistas de jornais regionais, costumeiramente ágeis na reprodução acrítica de informações frequentemente distorcidas e de viés político explícito veiculadas pelos jornalões nacionais, redes de TV e de rádio – como no caso do ex-ministro Orlando Silva, a quem em uníssono se procurou impor a pecha de desonesto sem que uma prova sequer dos supostos delitos por ele praticados tenha sido apurada!
A condição de “partido” assumida pela grande mídia no Brasil se acentua a cada dia. O direito democrático à informação e à expressão do pensamento é terrivelmente cerceado em função do oligopólio que controla os meios de comunicação. Um fator de distorção do processo democrático, inaceitável sob todos os títulos.
Ora, um país da dimensão do Brasil, que atravessa uma fase prenhe de possibilidades de encetar transformações sociais de envergadura e de se afirmar no concerto internacional como nação soberana e progressista, necessita mais do que nunca do debate amplo e democrático de ideias. A população precisa tomar conhecimento dos fatos e acompanhar as diversas interpretações oferecidas por diferentes correntes de pensamento. Sem democracia não há progresso econômico e social consistente.
Observe-se, entretanto, que o poder dos oligopólios é paradoxalmente gigantesco e relativo. Os oito anos de Lula na presidência da República deram ensejo à maior campanha sistemática da grande mídia, de caráter oposicionista, movida contra o governo. Não há precedentes dessa dimensão em nossa História, mesmo nos anos cinquenta, no governo Vargas e no início dos anos sessenta, com Jango. No entanto, a mídia perdeu três vezes consecutivas: Lula se elegeu, se reelegeu e foi sucedido pela presidenta Dilma. É que entre a mistificação midiática e a realidade concreta da vida, pesa muito mais o que o povo sente e objetivamente vive. Os êxitos do governo chegaram aos lares e aos bolsos da maioria da população que aspira mudanças reais.
Um poder relativo sim, nesse sentido. Mas extraordinariamente corrosivo e ameaçador. Daí a necessidade de democratizar a comunicação como elemento indispensável ao pleno desenvolvimento do País, regulamentando o setor de modo a assegurar que todos possam saber o que se passa e possam falar o que pensam.
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