Dilma e ano que finda
Luciano Siqueira
Publicado no portal Vermelho www.vermelho.org.br
Tempo de retrospectiva, inclusive daquelas enfadonhas e repetitivas das redes de TV, jornais e revistas semanais. Mas necessárias – para que se tenha noção do terreno onde pisamos.
Coloquemo-nos no lugar da presidenta Dilma – que naturalmente tem um belo balanço a fazer de ocorrências, realizações, contratempos e resultados do seu primeiro ano de governo. Ela que embora ostente uma militância que remonta à resistência democrática dos anos sessenta, que lhe valeu a prisão e a tortura, jamais havia assumido cargo eletivo e se vê na condição de primeira mandatária do País. Certamente um rico e conturbado aprendizado.
Outro dia li o “Dossiê Brasília – os segredos dos presidentes”, de Geneton Moraes Neto, que não chega a ser uma obra consistente e tampouco reveladora, como o título sugere. Fica na superfície dos acontecimentos, da formulação de opções de governo e mesmo de eventuais intrigas ou conflitos de relevância. Entretanto dá uma ideia da natureza das inquietações que alcançam o espírito do chefe da Nação, sobretudo nos momentos de exercício solitário do poder.
Pois bem, Dilma Rousseff teve que viver momentos assim sem o acúmulo de experiências anteriores, amadurecendo a cada passo a base do carbureto. Chega ao final dos primeiros doze meses com muito a comemorar: da própria autoridade, que se firma, aos êxitos políticos e administrativos em muitas áreas. E a julgar pela mais recente pesquisa CNI/Ibope, onde alcança índices de aprovação superiores aos seus dois antecessores no mesmo período, vem ganhando a confiança e o reconhecimento da grande maioria dos brasileiros.
É certo que ela iniciou a gestão em condições políticas mais favoráveis das com que contou Lula, no primeiro e no segundo governo. Tem ampla maioria no Senado e na Câmara, que Lula alcançou muito mais modesta e a muito custo. A maioria de Dilma já veio com os mapas eleitorais. Mas é uma maioria heterogênea, complexa e, mesmo embalada pelo bom desempenho da economia (e portanto da satisfação de interesses objetivos), difícil de administrar.
Pois ter maioria parlamentar ainda é pouco no regime presidencialista que temos. A cada matéria importante para o governo abre-se um ciclo de penosas negociações. E no que diz respeito a desatar o nó da macroeconomia – superar o cambio sobrevalorizado, defenestrar gradualmente a política de juros altos e conter a anarquia dos fluxos externos de capitais especulativos, junto com o controle inflacionário -, a presidenta ainda está longe de obter sólida concordância de sua base. Terá que negociar muito, argumentando com as ameaças externas à nossa economia e demonstrando tintim por tintim que sem a ampliação da produção, do emprego e do consumo não poderemos atingir o desejado crescimento do PIB em 3.5% em 2012. Isto quer dizer arrostar o poder e a capacidade de sabotagem do grande capital financeiro e da mídia que lhe serve de porta-voz.
Portanto, cabe-nos desejar que Dilma tenha um 2012 em que entre em cena a voz das ruas puxada pelas centrais sindicais, pelo movimento estudantil e popular; e mesmo pelo pronunciamento do setor produtivo do empresariado. Para que seja um ano de muito trabalho, grandes pelejas, vitórias e paz.
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