07 dezembro 2011

Buscando água em fonte esgotada
Luciano Siqueira

Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

Anoto comentários impacientes de colunistas das diversas mídias em relação à dificuldade que encontra o PSDB de enfim efetuar o que vem prometendo há tempo: atualizar o seu discurso.

A impaciência denota óbvio comprometimento, pois expressa em termos que em nada sugere o distanciamento desejável de quem apenas analisa os fatos, sem tomar partido. É como se a oposição efetivamente empreendida através de jornais, revistas, rádio, TV e sites e blogs na web estivesse órfã de uma representação partidária propriamente dita. E está.

Reflete também um equívoco – o de imaginar que os tucanos apenas estivessem falhos na tarefa de verbalizar o que pensam, e não propriamente na escassez de um pensamento articulado. Ou seja: o buraco é mais embaixo e a torcida ainda não percebeu isso.

A cada derrota eleitoral surgem juras de que o principal partido da oposição atualizará seu programa, buscará uma maior aproximação com a chamada classe média e, mais recentemente, até com os trabalhadores sindicalizados. E a crítica à esquerda, que não teria a capacidade de refletir o Brasil real (sic). Sem consequência prática, entretanto.

Na verdade, em qualquer país do mundo cabe à oposição, quando programática e consistente, formular propostas alternativas às políticas vigentes, sob pena de cair no vazio e se afastar mais ainda do eleitorado e colher sucessivas derrotas. O que ocorre no Brasil é que tanto o PSDB, como seus aliados mais próximos DEM e PPS, não construíram nada além do ideário imperante na era FHC, de alinhamento com a orientação neoliberal supostamente vitoriosa mundo afora. Desde 2002, com a primeira eleição de Lula, o País experimenta novos rumos, com resultados significativos a ponto de sustentarmos em 9 anos um padrão de crescimento e de redução de desigualdades sociais e regionais sem precedentes. E isso acontece justamente pelo abandono a da orientação anterior sustentada pelo tucanato e seus coadjuvantes.

Além disso, desde final de 2007 e início de 2008, a crise global atola os EUA e a Europa em dificuldades e dá margem à ascensão de grandes países emergentes, entre os quais o Brasil se inclui, apesar dos entraves que perduram.

Ser contra isso só se tiver uma proposta melhor. A oposição não tem, o PSDB não pode ter por uma questão lhe é intrínseca: a base ideológica e política que o inspira, decorrente de sua ligação umbilical com a grande capital financeiro. Daí centrar o seu discurso num suposto combate à corrupção, ao modo da velha UDN.

Mais: quando o Ministério da Fazenda e o Banco Central enfim se entrosam, por orientação da presidenta Dilma, e adotam a queda gradativa da taxa Selic como forma de destravar a produção e ampliar as oportunidades de trabalho – no reverso do que fazem os países da Zona do Euro, que tentam sair da crise mediante cortes drásticos em investimentos, regressão de direitos sociais e desemprego -, que fazem os tucanos? Criticam o que chamam de “mudança incoerente”, numa forma acanhada de defenderem os interesses do setor rentista.

Por essa e outras é que os impacientes analistas deveriam reconhecer que procuram água numa fonte que já secou.

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