22 novembro 2012

A "canarinha" não é mais a mesma

Saudade das seleções de antigamente
Luciano Siqueira

Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

Antes de tudo tenho que reconhecer a minha quase nenhuma autoridade para comentar o assunto. Por uma razão muito simples: há mais de trinta anos deixei de frequentar os estádios por uma escolha da qual não me arrependo: priorizar a vida em família ao invés de sacrificar uma tarde de domingo assistindo uma partida de futebol, por mais importante que fosse. A escolha se impôs em razão da vida atribulada de militante e, durante algum tempo, de médico, que subtraía, como até hoje subtrai, momentos preciosos da convivência familiar.

As duas filhas jamais se queixaram da militância intensa dos pais justamente porque não lhes faltamos em todas as fases da vida, da infância à atual idade adulta.

Mas não me nego a ver na TV uma peleja bem disputada. E, confesso, escuto resenhas esportivas radiofônicas para ter uma ideia de como as coisas andam, cá na província e mundo afora.

Na TV, se o jogo é bem disputado vou até o fim; se é uma pelada marcada pela retranca intransponível dos contendores, desligo e volto as minhas atenções para um bom livro.

Hoje tem jogo do Brasil contra a Argentina, em Buenos Aires. Vejo-me totalmente desinteressado, sequer terei tempo de dar uma espiada, envolto em compromisso com a equipe de transição que ajuda o prefeito eleito do Recife, Geraldo Julio, a preparar o futuro governo.

Antigamente, perder um jogo da canarinha nem pensar! Hoje, qual mesmo a escalação do time, quem sabe? A cada amistoso, a seleção se apresenta com uma composição diferente. Ninguém consegue mais se enredar em homéricas polêmicas sobre qual o melhor zagueiro central, o meio campista preferido ou a linha de frente. A escalação segue ao prazer das circunstâncias - que são determinadas não por moto próprio, mas por imposição de contrato assinado entre a CBF e a FIFA, que se encarrega de programar os jogos. Daí porque acontecem coisas esdrúxulas, como o Brasil enfrentar a Colômbia nos EUA.

É a globalização do futebol, escutei um comentarista asseverar semana passada numa das resenhas de maior audiência. Traduzindo: o futebol é um grande negócio que ultrapassa fronteiras e não tem território específico para se realizar, qualquer parte do globo terrestre vale a pena, desde que dê lucro aos seus promotores. O torcedor, esse eterno desrespeitado, fica a ver navios – ou melhor, a ver partidas que mais parecem uma pelada de praia do que propriamente confronto entre escretes nacionais.

Dá uma saudade danada das seleções de antigamente. Os mais antigos se lembrarão do escrete bicampeão mundial, vencedor das Copas de 1958 e 1962, cuja escalação mudou quase nada em oito anos. Envergar a camiseta verde-amarela era a glória para o jogador brasileiro, pois poucos alcançavam esse galardão. Hoje, em dois anos de vigência do comando de um treinador, ultrapassa a duzentos os que se viram honrados com a convocação para um desses jogos caça-níqueis que não empolgam ninguém. Foi-se a glória, dissipou-se a emoção.

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