17 novembro 2012

Refundação na velha Arena

A direita que se assume
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Folha

 
Já foi o tempo em que cá em nosso país tropical a direita se apresentava como realmente é: direita. Sobretudo quando da derrocada do regime militar, tanto correntes políticas e lideranças proeminentes assim situadas, quanto a mídia se colocam a anos luz de distância da real caracterização do espectro político-ideológico a que cada um pertence. Inventam-se “teses” as mais diversas para tergiversar sobre a real posição assumida, tipo “social-liberalismo” e assemelhadas.

Caso de José Serra, do PSDB. Na campanha presidencial em que foi derrotado por Dilma e agora no pleito municipal em São Paulo, quando perdeu para Haddad, adotou posições nitidamente de direita, temperadas inclusive por conotações religiosas ultraconservadoras. Mas jamais se colocou como tal e nenhum analista da grande imprensa idem. No noticiário da rádio estatal francesa, retransmitido aqui pela Rádio Universitária FM, sim – com todas as letras. Na Europa, direita é direita, centro é centro e esquerda é esquerda.

Lembro-me do deputado Drayton Nejain, do então PDS, sucedâneo da Arena, nos anos oitenta. Costumava me apartear na Assembleia Legislativa salientando em que campos nos encontrávamos: “Vossa Excelência é de esquerda, eu sou da extrema direita...”. Tinha a coragem de assumir o que realmente era.

Li ontem que finalmente surge uma direita que se assume: o grupo que ora tenta refundar a Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido criado pelos militares para dar sustentação à ditadura no Congresso Nacional, que funcionava sob enormes restrições, tolhido em suas prerrogativas essenciais.

A estudante de Direito Cibele Bumbel Baginski, de apenas 23 anos, seria a líder do grupo, responsável pela publicação do estatuto do novo partido, no "Diário Oficial da União".

Dentre os itens programáticos da nova Arena estão "abolição de quaisquer sistemas de cotas raciais, de gênero ou condições ‘especiais’", a maioridade penal aos 16 anos e o retorno ao currículo escolar das disciplinas de Latim e Educação Moral e Cívica - ensino imposto pelos militares em 1969 e tirado do currículo em 1993.

Na estrutura partidária, um "Conselho Ideológico", a atuar como órgão maior da direção, composto por cinco membros permanentes e vitalícios e quatro indicados. O estatuto afirma textualmente como base ideológica o "conservadorismo, nacionalismo e tecno-progressismo, tendo para todos os efeitos a posição de direita no espectro político".

Bom ou ruim? Nada mal, pois a boa prática democrática implica na explicitação de todas as correntes político-ideológicas à luz do dia, sem subterfúgios. Quem sabe a nova-velha Arena ajude a tornar o embate de ideias mais nítido e, assim, contribuir indiretamente para a formação da consciência política dos brasileiros?

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