Luciano Siqueira
Publicado no portal Vermelho www.vermelho.org.br e no Jornal da Besta Fubana
- Que tem a ver o calcanhar com a cueca?, poderia arguir quem
me lê nesse estante.
Explico. Já em fim de carreira – fim mesmo! -, que o volume diário
de oxidrila consumido se encarregou de antecipar, Martin Francisco foi contratado
pelo CSA das Alagoas, com grande repercussão nos jornais locais e nas resenhas
radiofônicas. Seria a solução para as pelejas finais do campeonato estadual.
Seria, mas não foi: entre o copo e a cancha, o ex-técnico dava preferência
insofismável ao primeiro. Foi dispensado, causando grande frustração à torcida
alviazulina. E em mim também, que em plena militância clandestina, conferia
tudo pelas ondas poderosas das rádios locais, empolgado com a vinda do mago da
tática que levara o meu Vasco a vitórias memoráveis. Fiquei até torcedor do CSA
por causa disso.
Mas a Rádio Gazeta não se deu por vencida. O pinguço
ex-técnico, agora mais ex do que nunca, não estaria no banco do CSA, mas
poderia se dirigir aos aficionados alagoanos convertido em comentarista. Acontece
que no intervalo entre o primeiro e o segundo tempo do clássico CSA x CRB,
convidado a fazer uma observação complementar à análise do titular da matéria
(não me lembro quem era), ouviu-se prolongado silêncio, uns soluços hic, hic típicos
de quem já envia enchido a lata, até que o astro convidado fez o definitivo
comentário, quase monossilábico: “Falta o dedo de um técnico, hic!” – sem se
dar ao trabalho de explicar de qual técnico, se do esquadrão azul e branco ou
do seu oponente alvirrubro, nem exatamente onde, taticamente, o tal dedo
deveria ser colocado... E nada mais disse, nem foi perguntado.
Bom, e que isso tem a ver com a cobertura televisiva do
carnaval? Tudo a ver, como no slogan da Globo. Nunca vi comentaristas tão
pobres de ideias e tão pueris em suas conservações! “A turma está animada”, “A
escola mostrou que tem dinheiro e soube gastar”, “As fantasias são
impressionantes” e que tais. Análise que é bom, necas!
Para completar, repórteres de rua (é assim que se chama?),
com raras exceções, se excederam na inglória arte de perguntar o óbvio ou
ignorar as mais legítimas e fascinantes expressões de nossa cultura. A cada
pergunta imprópria, me vinguei imaginando respostas na mesma moeda: “Você
desfila por que gosta?” (Não senhora, estou aqui por penitência), “Sua fantasia
está pesada?” (Nada disso, esse boneco gigante é leve feito uma pluma, quer
experimentar?), “Muito calor ou você nem sente?” (Sinto nada, são quase 40
graus, mas estou morrendo de frio) e assim por diante.
Claro que mudei de canais (a bem da verdade, o festival de
mediocridade não foi uma exclusividade da Globo, a concorrência marcou firme na
mesma toada).
Ora, se é mesmo para desinformar – como se faz diariamente
em matéria de política, economia e quejandos -, por que no carnaval seria
diferente? Ainda bem que o povo faz a festa sem precisar da reportagem
televisiva. Nem do dedo de um técnico para explicar a fantasia e a algazarra.
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