Felipe Carreras*
Publicado no jornal "O Povo", do Ceará
"O frevo foi classificado pela Organização das Nações Unidas (Unesco) como Patrimônio Imaterial da Humanidade"
Brasileiros
de outras regiões que visitam Pernambuco costumam se emocionar ao perceber,
observando uma praça que se agita, febril, porque o mais pernambucano dos
gêneros musicais é designado pela palavra frevo. “Parece uma panela em
ebulição”, exclama o visitante, contaminado pela força da música e,
literalmente, sugado pelo caldeirão fervente de foliões e alegria. A relação
entre o substantivo frevo e o verbo ferver já está explicitada nos dicionários.
O grande Houaiss, por exemplo, crava a origem da palavra como “alusão à
agitação e ao calor da dança e da música”.
No fim do
ano passado, 106 anos depois de ter sido reconhecido com seu nome de batismo
pela primeira vez, o frevo foi classificado pela Organização das Nações Unidas
(Unesco) como Patrimônio Imaterial da Humanidade. A concessão da honraria foi
anunciada na 7ª Sessão do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do
Patrimônio Cultural Imaterial. O frevo foi a única expressão da cultura
brasileira avaliada nesta sessão, junto com outras 35 propostas.
Se é verdade
que cada povo tem a manifestação artística que é própria do seu caráter, é
também óbvio que a energia do frevo, seu ritmo febril e seu poder hipnótico são
a mais perfeita tradução do modo de ser dos recifenses e dos pernambucanos,
gente naturalmente agitada, rebelde, determinada ao erguer bandeiras de luta e
apaixonada por sua própria identidade cultural.
Em razão
disso, é o frevo que dita o ritmo das festas recifenses. Nas ruas, nos salões e
nas praças reinam o frevo de rua, de bloco, canção ou abafa. O ritmo faz
qualquer folião, até mesmo os menos habilidosos com a sombrinha, cair no passo.
Não importa a idade, adultos, crianças e idosos se encantam. Ele é o rei do
Carnaval de todo o Estado. É necessário, é curtido, é cantado, é dançado. Ele
deixa mais leve a subida às ladeiras de Olinda e o calor de 40 graus dos mais
de dois milhões de foliões que dividem as ruas estreitas da cidade para brincar
no Galo da Madrugada.
O Recife
ferve ao longo do ano ao som de Capiba, J. Michiles, Edgard Moraes, Getúlio
Cavalcanti, Zumba, Nelson Ferreira, maestros Duda, Formiga e Spok e tantos
outros compositores de primeira linha, mas é no Carnaval que essa paixão fica
mais evidente. E para eternizar o ritmo, aulas gratuitas de frevo são
realizadas diariamente nas praças e parques da cidade. Centenas de crianças se
movimentam com suas sombrinhas ao som de Vassourinhas, clássico do Carnaval
pernambucano.
Se as aulas
gratuitas eternizam o frevo na alma, para repassá-lo entre as gerações a
Prefeitura do Recife, com criação e realização da Fundação Roberto Marinho, vai
montar o Paço do Frevo. Será um espaço para perpetuar a riqueza do principal
ícone da identidade pernambucana. Um espaço para a difusão da cultura do frevo,
além de pesquisa, lazer, capacitação e apoio profissional aos que atuam em
favor dessa cultura.
“É de fazer
chorar quando o dia amanhece e obriga o frevo a acabar! oh, quarta-feira
ingrata, chega tão depressa só pra contrariar”. Este verso, eternizado em
canção pelo compositor Luiz Bandeira, é um dos mais entoados pelos recifenses
quando o Carnaval está para acabar. Isso porque, para o folião pernambucano, o
frevo é autêntico, de raiz e só Pernambuco tem.
É o frevo,
hoje, a expressão maior de nosso povo, marco da nossa cultura. E nos representa
não só entre os símbolos nacionais da cultura popular, mas mundialmente,
reconhecido em meio às mais representativas expressões da humanidade.
* Felipe Carreras felipecarreras@recife.pe.gov.br
Secretário de Turismo e Lazer do Recife
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