Luciano Siqueira
Fez parte do receituário neoliberal, sobretudo na chamada
era FHC, a subestimação do planejamento como instrumento de gestão pública. De
cima a baixo, do governo federal aos estaduais e municipais, desmontaram-se os
organismos de planejamento, delegando-se à iniciativa privada (empresas de
consultoria e afins) o trabalho de formatar projetos – estes, em geral, de
natureza pontual, sem uma visão estratégica de futuro.
Os efeitos disso sobre nossas cidades são severos. Sobretudo
porque com a chamada explosão urbana, que em cinco décadas inverteu a relação
entre rural/urbano na distribuição espacial de nossa população, tendo como ingrediente
a ocupação desordenada do território de nossas cidades, objetivamente cresceu a
necessidade de enfrentar os problemas imediatos à luz de uma estratégia de
desenvolvimento de médio e longo prazos.
Hoje, tempo de mudanças e de retomada do crescimento econômico
com significativa inclusão social, renascem as esperanças de uma vida melhor em
camadas cada vez mais extensas da sociedade, produzindo inclusive manifestações
expressivas de exercício da consciência cidadã. As pessoas voltam a acreditar
na possibilidade de uma cidade mais humana.
Na última terça-feira tivemos um exemplo emblemático disso
na capital pernambucana. O Observatório do Recife, que congrega um amplo
conjunto de instituições de diversas naturezas, com a chancela da Revista
Algomais, entregou ao prefeito Geraldo Julio o projeto “O Recife que
precisamos”. Fruto da ausculta de muitos especialistas e do debate junto a
segmentos organizados da sociedade, será um dos elementos balizadores de documento
a ser construído pela Prefeitura em articulação social ampla, destinado a
projetar a cidade até 2037, quando completará 500 anos.
O fato contém três elementos que devem ser ressaltados. Um:
a manifestação cosnciente de uma parcela da chamada sociedade civil, que toma
em suas mãos a tarefa de oferecer respostas aos problemas cruciais da cidade, a
partir de uma visão que mescla o imediato e o estratégico. Sinal de que se
renova a confiança de que o poder público local retoma as rédeas da vida no
espaço urbano e que pode fazê-lo em favor de uma cidade fisicamente organizada,
economicamente progressista e social e ambientalmente sustentável.
Dois: a permeabilidade do atual governo local à contribuição
da sociedade. Nesse caso, a decisão, ontem reafirmada pelo prefeito, de pensar
a cidade em íntima colaboração com organizações populares e democráticas e
instituições parceiras.
Três: a revalorização do planejamento. O documento entregue
ao prefeito Geraldo Julio se pauta por cinco eixos: Controle Urbano;
Planejamento de Longo Prazo; Fluidez da Mobilidade Urbana; Recuperação do
Centro do Recife e Revitalização do Rio Capibaribe. Temas que, inclusive,
também dizem respeito ao cerne do Programa que a Frente Popular construiu
durante a campanha eleitoral e que orienta a prática do novo governo.
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