23 maio 2013

Instinto de classe na preferência do eleitorado

Uma preferência natural e previsível
Luciano Siqueira

Publicado no Vermelho www.vermelho.org.br e no Blog da Revista Algomais

Dentre os muitos componentes do comportamento do eleitorado, o pertencimento a uma determinada classe social tem peso em geral negado ou obscurecido. No máximo se considera a “classe” na classificação mercadológica (sem lastro teórico) baseada no cruzamento dos níveis de renda e escolaridade, que distingue os segmentos A, B, C, D e E.

Entretanto, é possível sim, com relativo grau de aproximação da realidade, identificar o que na tradição revolucionária se denomina “instinto de classe” nas tendências do eleitorado. Não como único nem determinante fator, é verdade, mas como dado relevante. Assim, quando se reconhece que os segmentos C, D e E tendem a votar em defesa do status recém-adquirido (a partir do governo Lula), via inserção no sistema produtivo e no mercado de consumo, há que se captar, objetivamente, que a classe trabalhadora (em seus diferentes matizes) aí se concentra.

Por outro lado, nos segmentos A e B, principalmente o A, onde se situam os cerca de 2% dos brasileiros mais bem aquinhoados em termos de concentração de renda, é possível identificar a predominância dos detentores do capital – a chamada elite dominante. Isto porque, subjetivamente, se fundem interesses materiais concretos e concepção de mundo – ou, melhor dizendo, influência ideológica.

O jornal Valor Econômico noticia pesquisa em que grandes empresários manifestam preferência pelo senador Aécio Neves, provável candidato do PSDB à presidência da República, mesmo achando que a presidenta Dilma Rousseff tem mais chances de vencer. Foram ouvidos, em enquete realizada pelo Fórum da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), presidentes de 97 das 200 maiores empresas privadas do país.

Dilma perderia terreno para Aécio na proporção em que os empresários ouvidos acentuam sua avaliação de que o cenário econômico atua como maior entrave à competitividade, que em agosto do ano passado era de 33% e agora em abril atinge 69%. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, que hipoteticamente surge como candidato à presidência da República, emerge como terceiro colocado – crescendo de 4 a 11% no período.

Fica implícito – embora os analistas da pesquisa não o digam – que há uma identidade entre os entrevistados e o grau de preferência revelado, tendo como fio condutor o desejo (e a necessidade) de ter um governante que lhes assegure maior segurança quanto a seus interesses fundamentais. Dilma (e também Eduardo), como se sabe, é um milhão de vez mais permeável, digamos assim, às reinvindicações dos trabalhadores do que o senador Aécio. Então, no conflito entre o capital e o trabalho, melhor para esses dirigentes de grandes empresas privadas (algumas multinacionais) que o País tenha na presidência quem os represente. Em outras palavras, pesa na escolha, em última instância, o interesse de classe. Por isso, não será surpresa se na próxima sondagem a diferença pró-Aécio se alargue, em contraste com a preferência pró-Dilma nos denominados segmentos C, D e E.

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