Luciano Siqueira
Publicado no
Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)
Outro dia um
freguês da mesa ao lado, mesmo ressalvando que o assunto não é comigo, é com o
Procon, desabafou: - Vice-prefeito, faz mais de mês que tento trocar o
ventilador que a loja entregou errado e se recusa trocar. Comprei prateado e
veio preto!
Dou-lhe toda
a razão, recomendo que procure o doutor José Rangel no Procon e, de quebra,
faço propaganda contra a loja, que ocupa sempre os primeiros lugares no ranking
de reclamações dos consumidores no Recife.
E eis que me
deparo agora com matéria publicada no Valor Econômico, emblemática dos dois
pesos e duas medidas com que o consumidor é tratado – se um espécime de nossa
sofisticada elite ou se um reles mortal.
Enquanto a
loja de eletrodomésticos de clientela popular tudo faz para driblar os diretos
do consumidor comum, a indústria de aviação paparica o ricaço à exaustão.
Segundo o
jornal, a equipe de engenheiros de design de interiores de jatos executivos da
Embraer é capaz de passar semanas inteiras dedicada a ajustes na composição de
uma tinta até que alcance a tonalidade exata escolhida pelo cliente – que, no
caso, deve ter desembolsado, no mínimo, US$ 1 milhão para comprar o jatinho.
Um diretor
da companhia justifica tanto mimo em nome da concorrência pela preciosa fatia
do mercado de "luxo inteligente", cujos clientes são extremamente
exigentes, vão aos mínimos detalhes em busca da estética e do conforto.
Quem
adquirir um jato Lineage, o modelo mais caro da empresa, por US$ 55
milhões, pode escolher entre 700 tipos diferentes de tecidos, 400 de couros, 60
de carpetes e quase seis mil configurações alternativas para a cabine.
Já o
ventilador simples, que a loja não quer trocar, beira os 150 reais.
O contrate
reflete a brutal disparidade de renda no Brasil. Os 20% mais ricos – que podem
comprar carros de luxo, iates e aviões - concentram 57,7% do total da riqueza
nacional, enquanto os 40% mais pobres – que trocam a geladeira ou compram o
ventilador no sacrifício - detêm apenas 11%. Uns poucos alimentam o mercado de
“luxo inteligente”; a maioria vive a aventura do consumo de massas.
Ambos –
mercado de luxo e o popular – crescem no Brasil dos nossos dias. O de jatinhos
de luxo, em particular, segundo a Abag (Associação Brasileira de Aviação
Geral), a frota brasileira de aeronaves gerais passou de 10.054, em 2000, para
12.310 unidades, em 2010. Destas, 540 são jatos, o que representa 4% da frota
do País.
Já o mercado
de eletrodomésticos populares vem evoluindo com picos entre 2000 e 2009, com
crescimento de 18,9% em 2010 e em torno de 10% 2010 e 2012.
Ou
seja, o Brasil cresce, mas o desenho da extrema desigualdade na distribuição da
riqueza e da renda permanece. O que nos remete para a luta pelo desenvolvimento
econômico com distribuição de renda e maior equilíbrio social.
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