Luciano Siqueira
Publicado no portal Vermelho
www.vermelho.org.br
Em política, ter força é fundamental. Óbvio. Mas é preciso
jeito para o bom uso da força. Vale para quem governa e para quem se coloca na
oposição.
O jeito de fazer as coisas, ou seja, de se conduzir na cena
política, tem tudo a ver com a justa avaliação da correlação de forças e com
uma postura tática consequente. Em todas as esferas da luta - da guerra militar
às porfias cotidianas da política -, incontáveis são os exemplos de uso
inadequado da força que se presume ter ou que efetivamente se tinha, resultando
em fracassos muitas vezes surpreendentes.
No Brasil, há exemplos emblemáticos. Na Insurreição
Pernambucana, contra a ocupação holandesa (1645 a 1654), na Batalha dos
Guararapes, Francisco Barreto Menezes, Henrique Dias e André Vidal de
Negreiros, lideraram uma epopéia em que a astúcia e a capacidade de manobrar em
situação adversa, possibilitaram aos insurretos vencer o poderoso exército
holandês, de contingente muito mais numeroso, munido do que havia de mais
moderno em armamento à época, fortalecido por vitórias obtidas em outras terras
- porém treinado para a guerra de posição, em terreno plano. Atraído para área
acidentada e semi-encoberta pela mata, surpreendido por emboscadas típicas da
guerra de guerrilhas, o mais forte perdeu para o mais fraco.
Em pelejas eleitorais, no passado e em tempo recente,
situações que inicialmente se apresentavam previamente definidas tiveram
desenlace inverso, justamente pela capacidade tática de forças inicialmente em
desvantagem, e pelo comportamento precipitado, extemporâneo ou presunçoso das
que partiram em vantagem.
Estamos a pouco mais de um ano das eleições gerais de 2014,
que terão como cerne a disputa presidencial, por si mesma fator de tensão e até
de instabilidade institucional, ao longo de nossa breve história republicana. O
poder local também tem essa característica. Em Pernambuco, por exemplo, desde a
República Velha, quando Dantas Barreto e Rosa e Silva chegaram a trocar tiros
na disputa pelo Palácio do Campo das Princesas, ao tempo presente, em geral
ocorrem disputas acirradas.
Portanto, renhidas batalhas simultâneas darão o formato e o
ritmo do que acontecerá no ano que vem. Daqui até lá, toda atitude precipitada
pode resultar em prejuízos irrecuperáveis no futuro. Isto porque o cenário
ainda está por se configurar, sob a influência de muitas variáveis – umas
poucas postas, a maioria ainda em gestação.
O fato concreto e irrecusável é que estarão em disputa dois
rumos para o País: o que vem sendo trilhado há uma década, desde o início do
primeiro governo Lula; e o que soçobrou no pleito de 2002, encerrando o ciclo
neoliberal. De um lado e do outro se organizarão as forças presentes na cena
política. Podemos até ter múltiplas candidaturas, mas a linha demarcatória
estará nítida. Quem tem força ou supõe que pode conquistá-la no transcorrer da peleja,
há de situar-se no lado que lhe cabe e não perder o rumo – porque por mais que
se o subestime, o eleitorado brasileiro tem amadurecido e sabe distinguir as
coisas.
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