12 maio 2014

Paixão & tolerância

Política é como amor

Luciano Siqueira

Já escrevi sobre isso antes. Creio que mais de uma vez, ainda que de passagem, agregando o conceito ao tema central do momento. Sim, a política é como o amor. Ambos implicam paixão e tolerância, sentimentos contraditórios, mas indispensáveis à dedicação entusiasta e ao equilíbrio.  

Repito passagem de uma crônica de 2006. A paixão por uma causa, ou mesmo por um objetivo de curto ou médio prazo, ou ainda por interesses, digamos, questionáveis. É preciso estar apaixonado para dedicar-se à arte e ao ofício da política com desprendimento e até com sacrifício parcial da vida pessoal. Isso vale para todas as correntes políticas, para todas as causas – justas ou não – e para todos os indivíduos. Mas o que se pretende nem sempre é possível, ou fácil de alcançar. Depende de outros atores envolvidos na cena, remete a uma hábil e equilibrada abordagem de interesses contraditórios e de discrepâncias conceituais. Ninguém faz política sozinho, nem alcança grandes êxitos sem a conjugação de forças numa mesma direção. Daí a necessidade da tolerância, irmã gêmea da paciência e da persistência na busca de determinado objetivo, que implica em respeitar diferenças e tratar a todos como iguais a despeito da força relativa de cada um.

Em certas circunstâncias, é preciso “ficar rouco de tanto ouvir”, aconselhava Tancredo Neves, mestre da articulação política. Ouça e não ache nada estranho – modestamente, com alguma estrada percorrida cá na província, acrescentamos nós. No ponto de partida, via de regra, predominam as diferenças e a explicitação de desejos contraditórios porém legítimos. O ponto de chegada requer convergência de propósitos em torno de uma plataforma comum que conduza ao somatório das energias, e não à dispersão.

Parece papo furado. Mas não é. É assim que as coisas acontecem, vistas sob o ângulo de quem pretende, sinceramente, unir forças em torno de objetivos nobres.

Como nas eleições que se avizinham, tanto em ambito nacional como local. Pois é preciso vencer a peleja e reunir condições para bem governar – o que não se obtém sem base partidária, parlamentar e social suficientemente ampla e consistente.

Impossível avançar para além das conquistas acumuladas no País desde o primeiro governo Lula, a partir de 2001, sem um rearranjo de forças que traduza uma renovada vontade nacional (suprapartidária e socialmente ampla) pela continuidade do desenvolvimento em bases democráticas e soberanas – a causa mais justa da atualidade, pelo qual devemos estar apaixonados; e a mais difícil, em favor da qual precisamos juntar forças, sem preconceitos nem supervalorização de interesses grupistas subalternos.

Em Pernambuco, onde o jogo multifacético das alianças aparentemente borra fronteiras políticas e ideológicas, cumpre ir a fundo na atualização da agenda que assegura o avanço na direção que vem dando certo. Sem arroubos semânticos, nem sectarismos. Pois há se pensar nas urnas de outubro e no tempo posterior, fazendo convergir esforços dos governos federal e estadual. (Publicado no Jornal da Besta Fubana

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