Política é como amor
Luciano Siqueira
Já escrevi
sobre isso antes. Creio que mais de uma vez, ainda que de passagem, agregando o
conceito ao tema central do momento. Sim, a política é como o amor. Ambos implicam
paixão e tolerância, sentimentos contraditórios, mas indispensáveis à dedicação
entusiasta e ao equilíbrio.
Repito passagem
de uma crônica de 2006. A paixão por uma causa, ou mesmo por um objetivo de
curto ou médio prazo, ou ainda por interesses, digamos, questionáveis. É
preciso estar apaixonado para dedicar-se à arte e ao ofício da política com
desprendimento e até com sacrifício parcial da vida pessoal. Isso vale para
todas as correntes políticas, para todas as causas – justas ou não – e para
todos os indivíduos. Mas o que se pretende nem sempre é possível, ou fácil de
alcançar. Depende de outros atores envolvidos na cena, remete a uma hábil e
equilibrada abordagem de interesses contraditórios e de discrepâncias
conceituais. Ninguém faz política sozinho, nem alcança grandes êxitos sem a
conjugação de forças numa mesma direção. Daí a necessidade da tolerância, irmã
gêmea da paciência e da persistência na busca de determinado objetivo, que
implica em respeitar diferenças e tratar a todos como iguais a despeito da
força relativa de cada um.
Em certas
circunstâncias, é preciso “ficar rouco de tanto ouvir”, aconselhava Tancredo
Neves, mestre da articulação política. Ouça e não ache nada estranho –
modestamente, com alguma estrada percorrida cá na província, acrescentamos nós.
No ponto de partida, via de regra, predominam as diferenças e a explicitação de
desejos contraditórios porém legítimos. O ponto de chegada requer convergência
de propósitos em torno de uma plataforma comum que conduza ao somatório das
energias, e não à dispersão.
Parece
papo furado. Mas não é. É assim que as coisas acontecem, vistas sob o ângulo de
quem pretende, sinceramente, unir forças em torno de objetivos nobres.
Como nas
eleições que se avizinham, tanto em ambito nacional como local. Pois é preciso
vencer a peleja e reunir condições para bem governar – o que não se obtém sem base
partidária, parlamentar e social suficientemente ampla e consistente.
Impossível
avançar para além das conquistas acumuladas no País desde o primeiro governo Lula,
a partir de 2001, sem um rearranjo de forças que traduza uma renovada vontade
nacional (suprapartidária e socialmente ampla) pela continuidade do
desenvolvimento em bases democráticas e soberanas – a causa mais justa da
atualidade, pelo qual devemos estar apaixonados; e a mais difícil, em favor da
qual precisamos juntar forças, sem preconceitos nem supervalorização de
interesses grupistas subalternos.
Em Pernambuco,
onde o jogo multifacético das alianças aparentemente borra fronteiras políticas
e ideológicas, cumpre ir a fundo na atualização da agenda que assegura o avanço
na direção que vem dando certo. Sem arroubos semânticos, nem sectarismos. Pois há
se pensar nas urnas de outubro e no tempo posterior, fazendo convergir esforços
dos governos federal e estadual. (Publicado no Jornal da Besta Fubana)
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