22 maio 2014

No tempo do amor à camisa

Álbuns de figurinhas de antigamente
Luciano Siqueira


Li agora que em vários lugares formam-se animadas concentrações de colecionadores de um álbum de figurinhas da Copa do Mundo. Gente de todas as idades, muitos adultos de cabelos grisalhos - bendita nostalgia - dão-se ao prazer do troca a troca.

Volto, assim, por um instante, aos meus tempos de criança, colecionador que fui. Lembro-me de um álbum dedicado aos principais clubes do centro-sul do País, em que os jogadores eram retratados com o rosto na forma real, mas o corpo em desenho criativo, alusivo às características de cada um. Meio foto, meio caricatura. Lembro dos goleiros Poy (São Paulo), Oberdan (Palmeiras), Castilho (Fluminense); do centroavante Gino, do São Paulo, dos meio campistas Rubens e Evaristo, do Flamengo, de Vavá e Pinga, do meu Vasco; dos geniais Garrincha e Nilton Santos, do Botafogo.

Acho que era o Teixeirinha, ponta esquerda do São Paulo, que aparecia sorridente tomando banho de banheira, em alusão ao hábito de se posicionar sempre a frente dos zagueiros adversários, em impedimento.

E a “figurinha difícil”, obrigatória em todo álbum? É a mais rara, a que poucos têm acesso. A daquele álbum ficou para sempre no meu espírito como inalcançável. Era o meio-campista Zé do Monte, do Clube Atlético Mineiro. Nunca vi sequer uma foto desse jogador, de quem diziam maravilhas e por isso merecia, sim, o status de figurinha mais cobiçada.  

Até completar o álbum - e poucos o conseguiam - o felizardo tinha direito, como prêmio, a um eletrodoméstico. Um amigo do meu pai se vangloriava de ter ganho um ferro elétrico moderníssimo, que recebera via Correios, pelo serviço de reembolso postal!

Pois bem. Hoje resolvi pesquisar sobre o tal Zé do Monte e, com o auxílio do Google, finalmente me deparei com a foto do dito cujo e com uma breve biografia que, além da exaltação aos seus predicados dentro das quatro linhas, assinala a paixão pelo clube, o alvinegro das Minas Gerais – que o fez recusar propostas vantajosas para jogar em outras terras. Coisa do tempo em que o futebol ainda não se convertera no grande negócio que é hoje, em que os atletas já não podem alimentar o luxo da fidelidade à camisa do seu time do coração. (Publicado no Blog de Jamildo – JC Online)

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