A doença do imediatismo no futebol brasileiro
Luciano
Siqueira, no Jornal da Besta Fubana
Estamos na quinta rodada do campeonato
brasileiro de futebol - o "brasileirão", como se diz no jargão
rádio-televisivo - e nem sei ao exato quantos técnicos caíram e outros tantos
iniciaram agora seu trabalho em novo clube. Nas séries A e B a lista parece crescer
a cada semana, se não exagero.
Em Pernambuco, Náutico e Santa Cruz
mudaram na terceira rodada, ou antes. Ou seja: como sempre, bastam uns três
resultados negativos para que a troca se consuma.
Outro dia, num programa de debates na
TV, o vitorioso técnico Tite, ex-Corinthians, afirmou que em todos os clubes
por onde passou e obteve êxito, os resultados positivos só apareceram a partir
do primeiro ano de trabalho. E justificou alinhando algumas variáveis que, no
futebol moderno, concorrem para o sucesso ou fracasso de um grupo, cujo
amadurecimento requer tempo.
Mas há que se perguntar quantos clubes
têm a maturidade de gestão para aguardar um ano. Nenhum, mesmo os que já
atingiram, para os padrões brasileiros, um patamar de organização superior,
como São Paulo, Atlético Paranaense, Grêmio e Internacional.
Bem sei que este não um tema para
principiantes. Ou, no meu caso, para quem há muito não frequenta os estádios,
apenas vê jogos pela TV - nem sempre - e ouve, de passagem, resenhas no rádio
do carro. Também sei que não se circunscreve à esfera dos apaixonados
torcedores ou diretores amadores. Mas também sou filho de Deus e, como todo
brasileiro, sinto-me no direito de meter o bedelho.
O futebol, tal como mundo afora, no
Brasil também se converteu em empreendimento de grande porte, para muito além
da relação clube-torcedor. Em torno do marketing, por exemplo, se negociam
milhões em patrocínio e se vendem outros tantos em produtos
licenciados. Ora, se assim é, não pode seguir gerido de modo amadorístico,
improvisado, imediatista. Planejar em horizonte de médio e longo prazo é uma
imposição da realidade. Como fazem os grandes clubes europeus, ingleses,
alemães e espanhóis, sobretudo.
Assim, a instabilidade dos técnicos é
apenas uma ponta do iceberg gigantesco, que envolve da incompetência a
interesses menores, provincianos.
Nessa mesma rubrica se inclui o
calendário brasileiro, que impõe aos atletas um regime de trabalho desumano,
que em muito prejudica seu desempenho técnico e físico.
Assim, estamos prestes a iniciar a Copa
do Mundo vivenciando um grotesco contraste: compareceremos com um selecionado
de altíssimo nível, formado na quase totalidade por jogadores que atuam na
Europa, com chances reais de levar a taça; e um desempenho lastimável dos clubes
brasileiros que disputaram as fases iniciais da Libertadores das Américas,
todos já devidamente desclassificados diante de argentinos, uruguaios,
equatorianos e até bolivianos.
Poderemos até chegar à constatação de
que o mesmo futebol que terá sido capaz de vencer mais uma vez a Copa, vive
internamente uma das suas fases mais críticas, mergulhado na mediocridade,
fruto de gestão imediatista e incompetente. Até quando?
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