18 maio 2014

Troca-troca de técnicos é a ponta do iceberg

A doença do imediatismo no futebol brasileiro

Luciano Siqueira, no Jornal da Besta Fubana

Estamos na quinta rodada do campeonato brasileiro de futebol - o "brasileirão", como se diz no jargão rádio-televisivo - e nem sei ao exato quantos técnicos caíram e outros tantos iniciaram agora seu trabalho em novo clube. Nas séries A e B a lista parece crescer a cada semana, se não exagero.
Em Pernambuco, Náutico e Santa Cruz mudaram na terceira rodada, ou antes. Ou seja: como sempre, bastam uns três resultados negativos para que a troca se consuma. 
Outro dia, num programa de debates na TV, o vitorioso técnico Tite, ex-Corinthians, afirmou que em todos os clubes por onde passou e obteve êxito, os resultados positivos só apareceram a partir do primeiro ano de trabalho. E justificou alinhando algumas variáveis que, no futebol moderno, concorrem para o sucesso ou fracasso de um grupo, cujo amadurecimento requer tempo. 
Mas há que se perguntar quantos clubes têm a maturidade de gestão para aguardar um ano. Nenhum, mesmo os que já atingiram, para os padrões brasileiros, um patamar de organização superior, como São Paulo, Atlético Paranaense, Grêmio e Internacional. 
Bem sei que este não um tema para principiantes. Ou, no meu caso, para quem há muito não frequenta os estádios, apenas vê jogos pela TV - nem sempre - e ouve, de passagem, resenhas no rádio do carro. Também sei que não se circunscreve à esfera dos apaixonados torcedores ou diretores amadores. Mas também sou filho de Deus e, como todo brasileiro, sinto-me no direito de meter o bedelho.
O futebol, tal como mundo afora, no Brasil também se converteu em empreendimento de grande porte, para muito além da relação clube-torcedor. Em torno do marketing, por exemplo, se negociam milhões em patrocínio e se vendem outros tantos em produtos licenciados. Ora, se assim é, não pode seguir gerido de modo amadorístico, improvisado, imediatista. Planejar em horizonte de médio e longo prazo é uma imposição da realidade. Como fazem os grandes clubes europeus, ingleses, alemães e espanhóis, sobretudo. 
Assim, a instabilidade dos técnicos é apenas uma ponta do iceberg gigantesco, que envolve da incompetência a interesses menores, provincianos. 
Nessa mesma rubrica se inclui o calendário brasileiro, que impõe aos atletas um regime de trabalho desumano, que em muito prejudica seu desempenho técnico e físico. 
Assim, estamos prestes a iniciar a Copa do Mundo vivenciando um grotesco contraste: compareceremos com um selecionado de altíssimo nível, formado na quase totalidade por jogadores que atuam na Europa, com chances reais de levar a taça; e um desempenho lastimável dos clubes brasileiros que disputaram as fases iniciais da Libertadores das Américas, todos já devidamente desclassificados diante de argentinos, uruguaios, equatorianos e até bolivianos. 

Poderemos até chegar à constatação de que o mesmo futebol que terá sido capaz de vencer mais uma vez a Copa, vive internamente uma das suas fases mais críticas, mergulhado na mediocridade, fruto de gestão imediatista e incompetente. Até quando?

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