19 junho 2015

Crise e perspectiva

Tempo ruim, tempo bom

Luciano Siqueira, no portal Vermelho

Não se trata de simplificar o que é complexo, nem de tentar enxergar a realidade com lentes cor de rosa.
O Brasil atravessa situação momentaneamente difícil. O governo e as forças que lhe dão sustentação, idem. Desde 2003, quando se iniciou o processo mudancista no País com o primeiro governo Lula, este é o instante mais difícil.
Pela primeira vez dá-se uma correlação de forças adversa.
O centro - amplo, influente e hegemônico nas duas Casas do Congresso - representado principalmente pelo PMDB, escapa à liderança do PT, principal corrente da coalizão governista.
A instabilidade é a marca em meio a uma múltipla crise - econômica, institucional e, sobretudo, política.
Uma onda conservadora ganha terreno através da agenda do Congresso Nacional e do Judiciário.
A economia, submetida a um ajuste fiscal de base ortodoxa lado a lado com a política de juros altos como instrumento antiinflacionário (sic), prossegue estagnada.
Demais, as repercussões nefastas da crise global sobre os,países emergentes, a China inclusive, continuam a descer sua mão forte sobre
O Plano Safra, a possibilidade de investimentos pesados em infraestrutura - estradas, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos - e a fase 3 do Minha Casa, Minha Vida surgem como hipóteses futuras de retomada do crescimento. No meio do caminho, entretanto, há muitas pedras a remover – os juros altos inclusive.
Tempo ruim, sem dúvida.
Tempo bom, contudo, se o encararmos em perspectiva.
É que uma variável de enorme dimensão permeia a cena mundial e a cena brasileira: o capital financeiro hegemônico, que atua em todas as frentes feito um gás venenoso a se infiltrar nas entranhas da sociedade e das instituições, não oferece solução real para a crise.
Nem na Europa, nem nos EUA, nem aqui.
Tem força para prosseguir manobrando e impondo aos povos alternativas que concentram mais ainda o capital usurário, inibem a produção e a oferta de oportunidades de trabalho e a solução de problemas emergentes relativos às condições de vida da população. Aprofundando a crise.
Trata-se de uma guerra de longo curso, na qual as forças populares e progressistas tentam ainda acumular condições para uma contra-ofensiva futura.
Resistir é necessário - em todas as frentes, inclusive e especialmente no terreno das ideias.
Nunca foi tão necessário, conjunturalmente, se elevar a um patamar superior o debate sobre o que se passa agora, sobre saídas para a crise. O que envolve lastro teórico, político e técnico.
Para o PCdoB, que integra a coalizão que governa o país e tem no seu DNA uma sólida tradição de enfrentamento de dificuldades, num determinado sentido este é um tempo ruim, sim, mas igualmente um tempo bom. Porque está armados teórica e politicamente para encarar a luta como ela se apresenta – conforme sinaliza a resolução da 10ª Conferência Nacional recentemente realizada. E assim pode abrir veredas por onde pode ampliar a sua influência, crescer e se posicionar a altura dos novos combates que se prenunciam.

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