16 junho 2015

Força motriz na cena política

Os trabalhadores fazem a sua parte

Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Seria péssimo se, em tempo de crise e de severo ajuste fiscal, os trabalhadores estivessem passivos. Em nenhuma circunstância a nação pode prescindir da presença na cena política dos que vivem do trabalho, através de suas organizações representativas.

Nenhuma folha se move sem que interesses sociais contraditórios se expressem, nas mais variadas formas e intensidades. 

Não há política econômica neutra.

A ascensão social de mais de quarenta milhões de brasileiros nos últimos doze anos, via política de valorização do salário, de expansão do emprego, oferta de crédito, incentivo ao consumo e de inserção em escolas técnicas e cursos superiores, não se deu sem contrariar interesses.

Em algum grau significou transferência de renda.

E na esfera da subjetividade, digamos assim, sacudiu os preconceitos elitistas que contaminam a elite dominante propriamente dita e vastos segmentos médios da população por ela influenciados.

Dividir espaço nos salões de embarque dos aeroportos com a faxineira causa constrangimentos indisfarçáveis.

Personalidades públicas, como o cantor Zé Ramalho, que ao que me consta tem origem simples, sem nenhum pejo têm se queixado "do comunismo do PT" e do incômodo de viajar em avião lado a lado com pessoas de aparência muito pobre.

Nesse ambiente de certa mobilidade social, as camadas populares têm elevado seu nível de aspiração. Querem mais: em novas oportunidades de trabalho e em qualidade de vida. Nas cidades, sobretudo, almejam melhores serviços e um padrão satisfatório de atenção à saúde e das escolas públicas.

As centrais sindicais pedem à presidenta Dilma que sancione as mudanças no cálculo do fator previdenciário aprovadas no Congresso Nacional, os sindicatos de variadas categorias promovem greves pela manutenção do emprego (vide montadoras de veículos), por reajuste salarial e por melhores condições de trabalho.

Isso é bom.

Falta, entretanto, uma politização maior - no sentido correto de politização -, que possibilite uma intervenção dos trabalhadores na cena política para além das suas reivindicações corporativas. A defesa da democracia, da engenharia nacional, da retomada do crescimento econômico e da Petrobras são bandeiras que devem tremular lado a lado com os direitos trabalhistas.

Questão de tempo, talvez. E de empenho do sindicalismo classista, situado hoje principalmente na CTB.

Para que a voz das ruas e do chão de fábrica e do campo possa ser ouvida e efetivamente influir nos rumos do País. 

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