30 abril 2017

Uma crônica para descontrair

Que coisa, não?
Rafaele Ribeiro (Rafinha)

Antes de ontem, um amigo me presenteou com o livro de Matheus, o neto de sete anos, que escreve contos. Achei muito bacana. Fiquei encantada com a desenvoltura de Matheus e, sobretudo, a criatividade em suas estórias. Eram coisas do cotidiano, mas o menino descrevia com maestria sobre sua família, amigos, cachorro, escola...

Foi aí, que me veio à mente meus tempos na alfabetização. Hoje muita coisa mudou, mas no início dos anos 90, o aluno começava com a pré-escola e em seguida, a alfabetização, nessa, só se passava de ano aprendendo a ler. E, graças a Deus, aprendi.

Assim como Matheus, também escrevia minhas estórias, a pedido de tia Edna, minha professora da primeira série.

Ela era alta (pra mim), magra, cabelos pretos e curtos, olhos negros e sobre eles repousavam os óculos pequenos que combinavam com todo seu perfil "mignon".

Ah, chamávamos os professores de "tios e tias". É uma forma carinhosa. Não sei se acham errado hoje em dia esse método de ensino. Mas eu sempre adorei todas as minhas “tias".
Saímos tão pequeninos do conforto de casa. Substituímos parte do dia em que só existia painho, mainha, vovô e vovó por Professor Fulano, ou, na minha época, tia Edna. 

Tia Edna era o prolongamento da minha casa. Chamá-la de tia me confortava!

Bom, vez outra, ela nos pedia para desenvolvermos algum tema, claro que não era uma redação de 50 linhas. Eram poucas linhas, sobre algum esboço falado na aula. Todas as vezes que terminava minha estória, eu colocava no final a expressão “que coisa, não?"

Sempre fui uma criança tímida e nunca gostei de dar trabalho. Morria de medo de ser chamada atenção, até porque, se isso acontecesse, também, seria chamada em casa. Minha mãe vivia na minha escola sondando sobre mim e meu irmão.

Uma vez, tia Edna, enquanto corrigia as redações, me chamou à mesa dela. Fiquei tão nervosa! Acreditei que ela ia me dar alguma bronca porque nunca tinha sido chamada para ir ao birô. E me lembro bem dessa sensação, uma angústia tomou conta de mim. Lembro porque foi a minha primeira Professora. Aquela que foi a primeira extensão da minha educação, digo “extensão” porque recebia em casa, lá, minha ”tia”, complementava. 

Pois bem, ela estava curiosa sobre o porquê, nos finais do texto, eu usava a expressão “que coisa, não?" Eu respondi, quase chorando, que não sabia. Ela me acalmou, falou que era só uma curiosidade e que não estava me criticando por isso. Eu compreendi. Me acalmei. Sentei. 

Realmente, até hoje não faço idéia de onde veio essa expressão e o que me levou a colocá-la nos finais dos textos. Que coisa, não? 
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