29 novembro 2017

Debate necessário

Entre quem banca e quem precisa
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

Não se trata de sincronia entre esses dois elementos, antes uma dissonância, abissal dissonância. 
No Brasil de hoje, quem banca é o Mercado; enquanto a nação e o povo é que precisam. Em direções diametralmente opostas.

A lógica do Mercado é a da ultrafinanceirização — mundo afora e aqui. Da ruptura da bolha imobiliária em 2008, nos EUA, aos pesados investimentos dos bancos centrais na Europa para salvar bancos privados e a regressão de direitos visando à redução dos custos de produção e a recuperação da taxa média de lucro e, portanto, da capacidade de reinvestimento. Tudo sob o modelo do enfraquecimento dos Estados nacionais e o borramento de fronteiras soberanas.

No outro extremo, a lógica é a do Estado imprescindível como indutor do desenvolvimento e a inclusão produtiva como fator de redução da pobreza e de valorização do trabalho. Não há solução para a crise global aprofundando o apartheid social.

Esse é o pano de fundo das eleições gerais no Brasil, em outubro de 2018. 

Por enquanto, a dimensão dos problemas e o acirramento das contradições parecem ser maiores do que a capacidade subjetiva das correntes políticas em presença.

Nem a reverberação do passado recente dá conta dos desafios atuais, nem a trama midiática artificiosa. Ferir os problemas centrais e apontar respostas consistentes e factíveis é imprescindível.

Por enquanto, prevalece a dispersão — tanto no campo das atuais forças governistas como na oposição.

Na oposição, sobretudo as pré-candidaturas de Lula (PT), Ciro (PDT) e Manuela (PCdoB) são chamadas a darem um passo adiante na construção de plataformas, que podem se cruzar desde o primeiro turno, ou não.

Entre os governistas, obedientes antes de tudo aos ditames do Mercado, experimentam-se fórmulas discrepantes, que envolvem ensaios de possíveis outsiders a nomes tradicionais do PSDB e do PMDB, que alguns imaginam possa ser o próprio Temer. Ou o seu mentor, o ministro Meirelles.

Alckmin, pelo PSDB, vem insinuando ideário a um só tempo "de direita e de esquerda". Ou, melhor dizendo, um programa frankstein. Ideias que transitam nos interesses antagônicos entre quem banca e quem precisa. Dificilmente colará. 

Uma coisa é atrair forças situadas ao centro como aliadas, fieis da balança do jogo eleitoral. Outra coisa é empolgar o eleitorado com programa centrista numa sociedade a cada dia mais polarizada entre interesses extremos.

O buraco é mais embaixo, como se costuma dizer. E implica amplo debate desde já.

Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

Nenhum comentário: