07 outubro 2020

Tecnologia 5G: o que está em jogo

Decisão sobre 5G definirá relação do Brasil com a China
Valor Econômico

A decisão do Brasil de permitir ou não que a Huawei Technologies forneça tecnologia para sua futura rede 5G ajudará a definir o relacionamento mais amplo com a China, segundo o embaixador do país asiático em Brasília. “A questão não é se a Huawei vai ganhar ou não uma licitação”, disse o embaixador Yang Wanming em respostas a uma entrevista por escrito, semanas depois de os EUA advertirem sobre “consequências” se os chineses participarem da rede móvel ultrarrápida de quinta geração no Brasil. “O que está em jogo é se um país consegue criar para todas as empresas regras de mercado e ambiente de negócios nos parâmetros de abertura, imparcialidade e não discriminação.”

O representante chinês descreveu o processo de licitação do 5G como fundamental para empresas da China e de outros países avaliarem “a maturidade” da maior economia da América Latina. “Acreditamos que o Brasil saberá tomar decisões racionais, levando em consideração os interesses nacionais de longo prazo”, disse o diplomata. Autoridades americanas vêm pressionando o Brasil e outros aliados a banir componentes da Huawei em suas redes 5G, dizendo que eles facilitam o roubo de propriedade intelectual e a espionagem por Pequim. Recado mais explícito foi dado pelo embaixador americano no Brasil, Todd Chapman. Em recente entrevista ao jornal “O Globo”, o representante de Washington afirmou que as empresas americanas poderiam deixar de investir no Brasil por medo de terem sua propriedade intelectual comprometida pela presença chinesa.

A China ultrapassou os EUA como principal parceiro comercial do Brasil há uma década, quando o apetite de Pequim pelas exportações brasileiras de commodities disparou, especialmente soja, minério de ferro e, mais recentemente, petróleo. Os laços entre os dois gigantes emergentes passaram por dificuldade após críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro durante a campanha que o elegeu presidente, em 2018. Uma vez empossado, Bolsonaro amenizou o tom e se encontrou com o líder chinês Xi Jinping. Tensões voltaram à tona em março deste ano, quando o deputado Eduardo Bolsonaro culpou a “ditadura chinesa” pela pandemia do coronavírus. Yang exigiu um pedido de desculpas, que nunca veio. O embaixador chinês minimizou o histórico de atritos e disse que o consenso entre o país e o Brasil “é mais amplo que as divergências”. A declaração ecoa observações semelhantes feitas pelo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, que mencionou “boas perspectivas” bilaterais durante um raro telefonema com o colega chinês, Wang Yi, no mês passado.
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