04 março 2021

Competência e habilidade

 

Goleiros e zagueiros precisam saber o que fazer com a bola nos pés

Na dúvida sobre o momento certo do passe, ainda mais para quem não sabe, é melhor rebater

Tostão, Folha de S. Paulo

 

Na Copa de 2014, o goleiro Neuer, campeão do mundo pela Alemanha, encantou a todos com suas atuações, especialmente suas saídas rápidas do gol. Os zagueiros marcavam mais à frente e, quando a bola era lançada nas costas dos defensores, Neuer chegava sempre primeiro que os atacantes.

Na verdade, é um erro dizer, como falam muito, que Neuer é um goleiro que tem muita habilidade com os pés. Ele tem muita velocidade. Chega antes e rebate a bola ou, no máximo, dá um toque para um companheiro mais próximo. Raramente dribla. Isso é outra qualidade. Não tenta fazer o que não sabe fazer bem.

Neuer continua sendo o mais rápido na saída do gol, mas há outros goleiros com mais habilidade e com um passe muito melhor, especialmente o alemão Ter Stegen e o brasileiro Ederson. Já vi dois gols do Manchester City com o passe direto de Ederson, por cima dos zagueiros adiantados. Ter Stegen é superior a Ederson no passe curto e na troca de passes com os zagueiros.

Rogério Ceni, antes de Neuer, já dava passes e fazia gols de pênalti e de falta. Imagine se ele tivesse hoje um técnico como Fernando Diniz.

Os zagueiros, e não somente os goleiros, precisam melhorar o passe. São poucos os que têm habilidade para dar um passe com mais dificuldade. Quando tentam, erram. Os dois da seleção, Thiago Silva e Marquinhos, são ótimos na saída com a bola. Rodrigo Caio possui também um bom passe. Gustavo Gómez, do Palmeiras, é excelente zagueiro, menos para passar a bola. Prefere o chutão.

Pouco antes da Copa de 1970, o volante Piazza foi escalado de zagueiro, sem treinar. Piazza, que já tinha um bom passe para um volante, passou a ter um excepcional passe para um zagueiro. Foi ótimo para o meio-campo e para todo o time. Penso que, se Piazza tivesse sido zagueiro durante toda a carreira, teria sido completo, pois, além do passe certo, tinha muita velocidade e chegava sempre antes do atacante.

Uma das dificuldades para os zagueiros e para os goleiros é saber o momento certo para dar um passe ou para dar um chutão. Na dúvida, ainda mais para quem não sabe, é melhor rebater. Alguns insistem e dão o passe para o adversário. É importante também que os defensores evitem dar passe para o goleiro quando o atacante estiver próximo. O problema é que o adversário, sem o goleiro perceber, acelera e chega primeiro.

Treinar muito é fundamental. Porém, a emoção de um jogo é diferente da de um treino. Qual será o futuro dos goleiros no uso dos pés?

Inteligência coletiva

Dias atrás vi uma ótima entrevista de Mauro Silva ao programa O Grande Círculo, do SporTV, comandado por Milton Leite. Mauro Silva, campeão mundial em 1994 e nome de rua em La Coruña, na Espanha, é hoje vice-presidente da Federação Paulista de Futebol ​.

Mauro Silva não tinha o talento dos maiores jogadores da posição, mas era um ótimo volante, essencialmente técnico e regular. Sabia o momento de ser quase um terceiro zagueiro e de se adiantar para desarmar. Não tinha um passe para frente, como fazem os grandes meio-campistas, mas não errava. Sabia seus limites.

Mauro Silva possuía algo precioso, que não é medido pelos números, a inteligência coletiva, a capacidade de perceber tudo o que acontece em volta.

Mauro Silva se preparou para outras funções. O futebol brasileiro precisa de dirigentes independentes, eficientes e preocupados com a ética e com a qualidade do espetáculo, sejam ex-atletas ou não.

Veja: uma dica de leitura para quem gosta de cinema https://bit.ly/3qlLWRr

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