Goleiros
e zagueiros precisam saber o que fazer com a bola nos pés
Na dúvida sobre o momento certo do
passe, ainda mais para quem não sabe, é melhor rebater
Tostão, Folha de S. Paulo
Na Copa de
2014, o goleiro Neuer, campeão do mundo pela Alemanha, encantou a todos
com suas atuações, especialmente suas saídas rápidas do gol. Os
zagueiros marcavam mais à frente e, quando a bola era lançada nas costas dos
defensores, Neuer chegava sempre primeiro que os atacantes.
Na verdade, é
um erro dizer, como falam muito, que Neuer é um goleiro que tem muita
habilidade com os pés. Ele tem muita velocidade. Chega antes e rebate a bola
ou, no máximo, dá um toque para um companheiro mais próximo. Raramente dribla.
Isso é outra qualidade. Não tenta fazer o que não sabe fazer bem.
Neuer continua
sendo o mais rápido na saída do gol, mas há outros goleiros com mais habilidade
e com um passe muito melhor, especialmente o alemão Ter Stegen e o brasileiro
Ederson. Já vi dois gols do Manchester City com o passe direto de
Ederson, por cima dos zagueiros adiantados. Ter Stegen é superior a Ederson no
passe curto e na troca de passes com os zagueiros.
Rogério Ceni,
antes de Neuer, já dava passes e
fazia gols de pênalti e de falta. Imagine se ele tivesse hoje um
técnico como Fernando Diniz.
Os zagueiros,
e não somente os goleiros, precisam melhorar o passe. São poucos os que têm
habilidade para dar um passe com mais dificuldade. Quando tentam, erram. Os
dois da seleção, Thiago Silva e Marquinhos, são ótimos na saída com a bola.
Rodrigo Caio possui também um bom passe. Gustavo Gómez, do Palmeiras, é
excelente zagueiro, menos para passar a bola. Prefere o chutão.
Pouco antes
da Copa de 1970, o volante Piazza
foi escalado de zagueiro, sem treinar. Piazza, que já tinha um bom passe para um
volante, passou a ter um excepcional passe para um zagueiro. Foi ótimo para o
meio-campo e para todo o time. Penso que, se Piazza tivesse sido zagueiro
durante toda a carreira, teria sido completo, pois, além do passe certo, tinha
muita velocidade e chegava sempre antes do atacante.
Uma das
dificuldades para os zagueiros e para os goleiros é saber o momento certo para
dar um passe ou para dar um chutão. Na dúvida, ainda mais para quem não sabe, é
melhor rebater. Alguns insistem e dão o passe para o adversário. É importante
também que os defensores evitem dar passe para o goleiro quando o atacante
estiver próximo. O problema é que o adversário, sem o goleiro perceber, acelera
e chega primeiro.
Treinar muito
é fundamental. Porém, a emoção de um jogo é diferente da de um treino. Qual
será o futuro dos goleiros no uso dos pés?
Inteligência
coletiva
Dias atrás vi
uma ótima entrevista de Mauro Silva ao programa O Grande Círculo, do SporTV,
comandado por Milton Leite. Mauro Silva, campeão mundial em 1994 e nome de rua
em La Coruña, na Espanha, é hoje
vice-presidente da Federação Paulista de Futebol .
Mauro Silva
não tinha o talento dos maiores jogadores da posição, mas era um ótimo volante,
essencialmente técnico e regular. Sabia o momento de ser quase um terceiro
zagueiro e de se adiantar para desarmar. Não tinha um passe para frente, como
fazem os grandes meio-campistas, mas não errava. Sabia seus limites.
Mauro Silva
possuía algo precioso, que não é medido pelos números, a inteligência coletiva,
a capacidade de perceber tudo o que acontece em volta.
Mauro Silva se
preparou para outras funções. O futebol brasileiro precisa de dirigentes
independentes, eficientes e preocupados com a ética e com a qualidade do
espetáculo, sejam ex-atletas ou não.
Veja: uma dica de leitura para quem gosta de cinema https://bit.ly/3qlLWRr
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