Até quando?
Walter Sorrentino
Até quando
suportaremos recordes de mortes diárias de brasileiros, o aumento da média
semanal das mortes por COVID-19? Até quando nossas UTIs nem sequer terão vagas
para quem está à beira da morte?
Até onde se pode
aceitar a irresponsabilidade de um governo federal – caso praticamente único no
mundo – que boicota o enfrentamento da pandemia, em suposta “defesa da
economia”, que na verdade é defesa de sua reeleição?
Não se pode falar de
“proteção da economia” com um auxílio emergencial que não sustenta sequer
metade de uma cesta básica. De que economia se pode falar se morrerão 300,
depois 400 mil seres humanos? Em que os pequenos e médios empreendedores, tendo
investido no negócio as economias de toda a vida, naufragam, são levados à
humilhação perante si próprios?
Até quando as forças da produção e das
finanças estão dispostas a deixar de pôr cobro a um governo que tem, em meio à
maior crise sanitária da história em mais de 100 anos, o quarto Ministro da
Saúde, ainda dizendo que “a política do governo é uma só”, ou seja, manter a
orientação de Bolsonaro, que não pode reconhecer a necessidade do isolamento
social sob pena de passar a si mesmo o atestado de falência do que fez em todo
o tempo?
Não é hora de
persistir numa política econômica suicida, antes de ser criminosa, de falar em
arrefecer a curva de crescimento da dívida pública, elevar os juros e arcar com
a inflação, tão pesada na carestia para o povo que já está no limite da
pobreza, do desemprego e do desalento. Não tem cabimento manter o teto de
gastos, desvinculações e desobrigações orçamentárias, regras de falso ouro, em
nome de um fiscalismo que só assegura os interesses de 400 grandes
conglomerados empresariais do país. Não pensem as forças econômicas dominantes
que poderão se eximir dessa responsabilidade.
Não é moralmente
aceitável haver nesta hora rinhas políticas ou omissões políticas no
cumprimento de papéis institucionais. Será profundo descompromisso com o povo
deixar de colocar a travessia de 2021 acima de qualquer precipitação das
eleições de 2022. O mesmo ocorrerá se o Congresso Nacional permanecer inerme, perdidos
em mesquinhezes e não representar as aflições do povo, não aprovar sequer a CPI
da COVID-19, um importante instrumento de pressão na proteção da vida dos
brasileiros.
A situação é
gravíssima, não é de normalidade. Situações excepcionais demandam soluções
excepcionais, “fora da caixinha” do acomodamento e das fórmulas. As
instituições democráticas precisam tomar nas mãos o destino do país em hora tão
grave, é isso que se faz quando o país recebe uma declaração de guerra do
inimigo. Não se deve calar nessas horas.
A vida política nos
exige inventividade, criar as condições de superação dos impasses. É válida a
insubordinação civil de governadores e da sociedade civil em pactuar respostas
que não são promovidas nem aceitas pelo governo federal. É válido que os
setores mais organizados da sociedade se arrisquem em manifestações de rua, com
as premissas necessárias de proteção contra a pandemia, assim que suspensos os
lockdowns.
Que tomem a voz os
líderes com descortino do que vivemos e viveremos. Que assegurem, já e sem
delongas, as condições para preservar a vida e a própria retomada da economia.
Se não forem imperativos agora, o país cujo rumo se disputará em 2022 estará
desagregado.
Que se manifestem os
ex-presidentes de diferentes orientações, as lideranças religiosas, da
sociedade civil, das artes e da cultura, do meio jurídico e político. Que se
faça um chamamento ao STF e ao Congresso: é preciso paralisar o quanto antes
esse governo, sob risco de irresponsabilidade histórica, aquela que se pagará
com o opróbrio.
É preciso uma direção
única e responsável: defender a vida pela vacinação, o isolamento social e os
auxílios emergenciais que não apenas do governo federal, como também dos entes
estaduais. É preciso “parar esse cara” e parar essa política econômica que vive
da senilidade, de um receituário que já foi deixado de lado até mesmo por seus
criadores do Norte.
A nação não pode ter
um povo enviado ao matadouro, governado com mentiras e agressões permanentes. A
sociedade, liderada por palavras e ações, nesse rumo, responderá de pronto, com
certeza, com novo estado de espírito, se estiver confiante de que há outro
caminho a trilhar no interesse nacional e das famílias. Só não o fará se
entender que, no fundo, o que há é disputa política mesquinha, a “briga de
políticos” medonha para estes tempos, que sempre lhe foi desfavorável.
É preciso catalisar
esse estado de espírito na sociedade, numa só voz e ação. O Brasil não pode
arcar com o governo Bolsonaro! Bolsonaro só tem cálculos políticos em torno de
sua reeleição. Crimes penais e de responsabilidade não faltam. O futuro
certamente não absolverá suportar mais 566 dias de martírio com Bolsonaro no
governo.
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