28 março 2021

Herança cultural

 

A pandemia e o Brasil Colônia: uma reflexão da herança cultural do comportamento brasileiro

Mikhail Gorbachiov, PCdoB/Bezerros

 

A pandemia do novo Coronavírus (COVID-19), que já ceifou a vida de mais de 300 mil brasileiros e brasileiras, e que conta com a irrestrita colaboração do presidente Bolsonaro para maior agravamento da crise sanitária que nos assola a níveis local e internacional, traz em si características importantes para que possamos compreender como elementos, ainda coloniais, reverberam no ideário e nos comportamentos de inúmeras pessoas.

A história nos revela que o projeto de colonização portuguesa no Brasil tornava os colonizadores sujeitos ativos, enquanto os colonizados não passavam de objetos passivos no processo.

É bem verdade, que a colonização exploradora, genocida e criminosa em nenhum momento intencionou nossa emancipação, mas sim a nossa dominação e subserviência. Este processo que inicialmente nos faz sentir inferiores aos europeus, posteriormente nos faz adotar um olhar europeizante/ dominador sobre as coisas e nas relações, sentindo vergonha de nossas origens, valores, cultura, pobreza, e consequentemente, não percebendo aquilo que realmente somos. A partir desse contexto, surgiram sandices do tipo: “Mas isso é Brasil”; “lá nos Estados Unidos é assim....”, “lá na Suíça é assado...” e outros afins. Notemos que a referência brasileira sempre é de vergonha e depreciação.

Pois bem, essa herança cultural do Brasil Colônia faz com que maior parte do comportamento brasileiro seja de endeusamento do que lhe é alheio, ou seja, a grama do vizinho é mais bela que a minha. E é obvio que isso reflete na nossa identidade nacional.

Por exemplo, diante do negacionismo do presidente em relação a pandemia, não é estranho ver pessoas que defendem o mesmo, alegando que a autoridade na terra é constituída por Deus, e que assim sendo o presidente está correto. Atrelado ao negacionismo, os sucessivos descuidados por parte do Governo Federal e o afrouxamento das medidas individuais de segurança sanitária, praticamente obrigaram governadores de diversos Estados a adotarem medidas mais rígidas no protocolo de segurança.

Como resultado tivemos a insatisfação por parte do empresariado, que assim como nossos colonizadores estão apenas interessados em extrair vantagens e auferir lucros, pouco se importando com seus funcionários, mas levando a eles a mensagem de risco de demissões, e consequentemente fazendo com que os funcionários venham a aderir a insatisfação empresarial, acreditando ser uma bandeira do trabalhador.

A maldita herança cultural faz com que olhemos nosso opressor com olhos de bom moço. Assim sendo o trabalhador cumpre o papel de massa de manobra do patrão.

Há um ditado popular que diz: pouca farinha o meu pirão primeiro. Será mesmo que o empresariado cortaria da própria carne, sem necessitar demitir? Ou demitiria quando visse o prejuízo se aproximar? Talvez uma análise mais crítica do nosso comportamento de colonizado possa nos dar uma resposta mais próxima da verdade.

Veja: No Brasil de hoje tudo é instável e imprevisível https://bit.ly/3eLGZj1

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