O PCdoB vive décadas
transpondo travessias, mas seguro de seu rumo!
Renato Rabelo
Não se pode entender
a história do Partido Comunista do Brasil sem entender a história política do
Brasil, mas também não se pode entender a história brasileira sem se ter em
conta a ação dos comunistas. Salientamos esta realidade histórica desde a comemoração
dos 90 anos do PCdoB.
Ao
longo da sua trajetória, o PCdoB enfrentou diversas situações. Extensos
períodos de governos autoritários, de ditaduras que levaram à perseguição,
cassação de mandatos, prisões, repressões e mortes de heróis e mártires, levando
à resistência prolongada dos comunistas; e períodos de abertura, de ascenso
democrático; fases de luta ideológica complexa, com as apostasias nas fileiras
comunistas à época da crise do socialismo na União Soviética e do ápice da
ofensiva neoliberal na década de 1990; até as experiências recentes de
participação no governo nacional no período progressista.
O
Partido passou por implacáveis riscos de delicadas travessias tendo que exercer
sua reestruturação em consequência da forte ação repressora, na Conferência da
Mantiqueira, em 1943; no final da ditadura militar na década de 1980; e até na
sua reorganização em função da tentativa em seu próprio seio de renunciar à sua
identidade política e ideológica, em 1962.
A luta constante pela renovação
Mas
o Partido também buscou sempre sua renovação e contemporaneidade, como no 8º
Congresso Nacional, realizado em 1992, diante da constatação de novo tempo e da
nova luta pelo socialismo no final do século passado. A 8ª Conferência,
realizada em 1995, que aprovou o Programa Socialista, representou um novo
patamar teórico. Ela proporcionou respostas justas aos dilemas da realidade
surgida com a crise do socialismo, sendo um acerto de contas com o dogmatismo
reducionista um salto avançado do pensamento estratégico do PCdoB.
E
seguindo essa linha adotada, levando em conta as grandes mudanças no início do
século atual e as novas experiências de construção do socialismo, sobretudo a
demonstração do socialismo como forma histórica na China – emergência de uma
nova, complexa e inovadora experiência econômico-social e a ascensão da China.
Assim, o debate na Fundação Maurício Grabois e no Partido desembocou no 12º
Congresso, que aprovou por unanimidade o novo Programa de 2009, cuja essência
é: O Rumo socialista e o caminho cuja aplicação é um Novo Projeto Nacional de
Desenvolvimento.
Na
atualidade, pelo ritmo das mudanças na luta de classes no mundo e no Brasil, já
estamos diante da tarefa de reatualizar e redimensionar o Programa vigente
desde 2009. Assim é o PCdoB, caminhando para seu centenário e sempre se
renovando.
Foco no curso da situação mundial e
nacional
Hoje,
o PCdoB tem procurado sempre vivenciar outra linha de sua atuação: a análise
concreta da situação do mundo e do Brasil.
Onde
chegamos? A característica principal mundial atual é o declínio relativo dos
Estados Unidos e a ascensão da China; tal quadro conforma a principal tendência
da geopolítica contemporânea. Diante disto, os EUA têm como objetivo
estratégico central conter a todo custo a ascensão da China e relançar sua
hegemonia no sistema mundial. E para alcançar esses objetivos torna-se mais
agressivo e intervencionista unilateralmente, provocando profundas implicações
para a paz e a estabilidade internacional.
Desse
quadro, ressalta uma conclusão importante: o socialismo nas condições
históricas da China, que impressiona amplamente, junto aos esforços de outros
países socialistas, demonstra que há esperança para os povos e nações, sendo
uma alternativa que enseja um ciclo de Nova Luta pelo Socialismo – sendo seu
tempo presente e futuro.
Em
contraste a desesperança da dura realidade do capitalismo contemporâneo,
propiciou em escala global uma onda política conservadora, de direita de cunho
fascista. A derrota do ex-presidente Donald Trump nos EUA, sob o impacto da
pandemia, permitiu de certo modo uma desarticulação dessas forças no mundo.
Em
nosso país onde chegamos? O presidente Bolsonaro se mantém como um dos maiores
bastiões dessas forças de ultradireita globais. O caráter autoritário do seu
projeto de poder insiste em conduzir as instituições ao impasse, busca
depreciar o ambiente democrático, emitindo sinais de uma preparação de tipo
golpista, a fim de se manter no poder por todos os meios. Seu governo impeliu o
Brasil para uma crise de múltiplas faces.
É
grave a regressão a que submeteu o Brasil enquanto país soberano e democrático.
O Estado nacional está ao sabor do capital especulativo e do rentismo. A
pandemia em nosso país adquiriu a envergadura de uma tragédia humana. A
política ultraliberal de Bolsonaro-Guedes, apressa a desnacionalização da
economia e a desindustrialização; agrava sobremodo a exclusão e as
desigualdades sociais.
PCdoB na linha de frente para derrotar
Bolsonaro
O
PCdoB se encontra na primeira fileira da luta decisiva de isolar e derrotar
Bolsonaro. Esta é a questão mais premente para salvar o Brasil. Mais uma vez o
PCdoB com base na sua vasta experiência lançou a tática de frente ampla que vai
ganhando grande influência entre as oposições. É preciso levar em conta que
essa é a forma de acumular forças do lado democrático e progressista na rota da
transição para suplantar a fase da defensiva tática, fortalecendo a esquerda.
Junta-se
a isso o crescimento da mobilização do povo e das classes trabalhadoras,
superando o refluxo por conta do isolamento social na pandemia. Contudo, agora,
voltando a ocupar as ruas, com cuidados sanitários, como nas duas últimas
mobilizações massivas que se irrompeu por todo país, além das capitais dos
Estados. Como tem assinalado nosso Partido a tática de frente ampla respaldada
pela mobilização política do povo, levantando suas bandeiras mais candentes e
urgentes, torna-se a orientação e o modo político necessários para enfrentar e
derrotar Bolsonaro, contendo-o na sua manobra golpista, visando pôr fim ao
regime democrático.
Em
um governo cujo centro de gravidade do poder político nacional se encontra uma
força de extrema direita, obscurantista e visceralmente antidemocrática e
anticomunista, como em outros períodos semelhantes, o PCdoB se encontra numa situação
de muita desvantagem estratégica e tática. Impõe-se uma situação, ainda de
defensiva tática, mas de resistência e de luta a fim de acumular condições que
possam assegurar a sua sobrevivência institucional.
Por
essa situação de grave retrocesso, o PCdoB avalia ser preciso construir a
unidade das forças progressistas e democráticas, superando a crise e abrindo o
caminho para a Reconstrução Nacional, sustentado por forças amplas, com o
resgate do Estado Nacional democrático e o encontro com a estabilidade
democrática. Esta é a primeira grande jornada para o deslanche e crescimento
das forças progressistas e, em especial, do nosso Partido.
E
soma-se a isto, contra o PCdoB, o dilema das restrições à democracia para o
papel institucional do Partido. É a Constituição de 1988 que consagrou o
pluralismo partidário no Brasil. No entanto, jamais cessaram as pressões dos
setores conservadores para restringir e elitizar o sistema eleitoral
partidário, com cláusulas de barreira e eliminação abusiva das alianças nas eleições
proporcionais parlamentares. Esta legislação eleitoral restritiva e casuística
atinge forças políticas estruturadas com base em programa e ideário bem
definidos, cuja presença eleva o patamar do sistema político-partidário em
nosso país.
A
atuação em frentes, tanto políticas e eleitorais, quanto no embate social, são
parte formadora da identidade da luta dos comunistas. Como também as amplas
frentes unitárias estão na formação histórica da Nação brasileira, no rumo do
avanço civilizacional.
A
bancada do PCdoB na Câmara dos Deputados, liderada pelo deputado Renildo
Calheiros, em intenso diálogo com praticamente todas as legendas do Congresso
Nacional, procura formar uma maioria que aprove as Federações partidárias. Todo
o Partido está empenhado para suplantar as atuais restrições à democracia e
garantir sua representação institucional, baseado no pressuposto da sua
continuidade histórica, identidade e autonomia.
Em
suma, o Partido Comunista do Brasil em seu longo percurso na sequência da
história da nossa Nação, passou por escarpados entroncamentos, por períodos
extensos de regimes de chumbo, de escassa liberdade política, por situações
díspares, por períodos de fim de linha e de recomeços, sempre manteve sua
continuidade e sua permanência, e pelo tempo percorrido, uma trajetória
partidária única no Brasil. Por tudo isso, o PCdoB tem demonstrado ser
indispensável à democracia, à luta dos trabalhadores e à defesa do Brasil.
Estamos seguros do rumo e do caminho
da nossa luta
Os
dirigentes e militantes do Partido e das suas fileiras estamos seguros do rumo
e do caminho que nossa luta deva seguir, agora e no futuro. Milhares de homens
e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, intelectuais,
artistas, lideranças públicas, fizeram a história de quase 100 anos do Partido
Comunista do Brasil. Alguns atuaram nessas fileiras por algum tempo, mas a
força do Partido está centrada na militância e nas lideranças reconhecidas que,
a ele dedica toda sua vida de lutas, muitos oferecendo a própria vida.
O
Partido formou e promoveu lideranças renomadas, cujo currículo de maior
representação pública foi construída no Partido, contribuindo para
engrandecê-lo. Alguns destes tendo permanência episódica. Outros por sua
dimensão, provocaram abalos com sua saída, mas não atingiram as raízes
profundas do PCdoB. Nestes casos, o corpo partidário se levanta em contundente
defesa do Partido.
Assim
também uma grande liderança do Partido, como Manuela D’Ávila, afirma
salientando um princípio básico da organização partidária, consagrado na
história da corrente universal dos comunistas: “Não acredito em saída
individual para problemas coletivos”. E que, “O Partido encontrará soluções
para seus desafios”. Ou diante da avalanche de comentários nas redes sociais
neste momento, Luciana Santos, presidente da nossa legenda afirma, o que
realmente se passa: “O PCdoB, prestes a completar seu centenário, seguirá sua
jornada alicerçado em seu valioso coletivo de militantes e no seu elenco de
respeitadas lideranças”.
Assim
prosseguiremos, unindo-nos aos aliados possíveis e necessários para defrontar
os desafios iminentes de conformar uma Plataforma Programática de Governo, com
três movimentos integrados e coetâneos: medidas emergenciais em defesa da vida,
deflagração do processo de reconstrução nacional e as primeira medidas para
retomada do desenvolvimento de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento.
Para
implementar esta Plataforma, defender a vida e reconstruir a economia nacional,
é necessário e urgente consolidar esforços para a construção de uma ampla
frente democrática com os mais amplos setores da sociedade a fim de isolar e
derrotar o desgoverno genocida de Jair Bolsonaro (Proposta encaminhada ao
Comitê Central do PCdoB a ser apresentada ao 15º Congresso do Partido, neste
ano).
A
construção de saídas vincará a dinâmica do processo congressual do 15º
Congresso, com uma linha de soluções coletivas, coesão e tempo hábil para
aprovação da alternativa.
Enquanto
existir capitalismo, o PCdoB é objetiva e subjetivamente uma exigência da
história.
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