Uma crônica de 2008
Nem ator, nem astronauta
Luciano Siqueira
- É o olhar, cara.
- Como assim?
- É esse meu olhar que não me deixa disfarçar, nem
quando tomo um porre.
- Disfarçar o quê?
- Minha dor, cara.
- Mas isso todo mundo tem, uns mais outros menos...
- Tudo bem, sei que é assim. Mas não quero que
ninguém veja o tanto que estou sofrendo...
- Puxa!
- Desde menino sou assim, por isso queria ser ator.
- Ator?
- Sim, pra ser alegre quando estivesse triste, pra
disfarçar.
- Mas ser ator não é fácil.
- É nada! Agora queria mesmo ser astronauta.
- Astronauta!?
- Astronauta, sim senhor. Pra passar um tempão
rodando pelo espaço sem ninguém saber se estou triste ou não, só a estrelas.
- Ah, meu amigo, ta na hora de você tomar outra
dose, isso sim.
[Ilustração: Paul Cézanne]
Veja: Vale resistir agora para evitar o pior https://youtu.be/VKvI9Ht196U
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