Meu pai
Chico de Assis*
Há 38 anos meu pai se foi. No transcurso do tempo, foi-se atenuando o tormento, experimentado naquela noite em que cheguei à casa em que ele morava, somente a tempo de pô-lo num taxi, para sentir sua cabeça pender em meu ombro, no que acho tenha sido seu último suspiro.
Aquele momento dilacerador de perda foi-se diluindo em lembranças, as vezes refletidas em versos, alguns dos quais deixo hoje com vocês, na homenagem que anualmente presto, nesta data, ao meu pai, FRANCISCO DE ASSIS BARRETO DA ROCHA, ou simplesmente seu Rocha, como os amigos o chamavam.
O tempo, a poesia, a aceitação resignada das fatalidades do destino me ajudaram a superar a dor e a seguir em frente. Ainda que em seu lugar tenha se instalado o incomensurável: uma saudade inclemente, cravada no meu peito para sempre!
Na cadeira de balanço
sua silhueta relembra
lições
de vida.
Na cadeira de balanço
sua sombra serena desafia
a morte.
Na cadeira de balanço
tantos anos passados
anunciam:
nosso amor em silêncio
por ser infinito
prescinde do tempo.
Ausência
Tão perto me sentia
tão grande e ilimitado
que ao perdê-lo ao meu lado
eu quase não me senti.
Perdido entre o casario
não sou mais eu sozinho que
marcho.
Sou eu e o vazio
da erma solidão em que me faço.
Ainda assim meu pai, nesse
momento
de falta atormentada e
longa ausência
eu quero que tu sintas como
estou:
nada me abala mais o
pensamento
que a incerteza viva aqui
contida
de que nunca entendeste o
meu amor.
Presença
38 anos pai
sem sua voz.
Ela se perdeu
nas intempéries do tempo.
Mas por todos esses anos
no amanhecer deste dia
uma lágrima se faz
presente:
Inarredável pontualmente.
*Ex-preso político, é advogado e poeta
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