PARA ALÉM DO PRESENTE
O último dia do ano
pode não ser o último do tempo
— como diz o poeta Drummond.
Mas pode ser esse inventário
de cicatrizes distribuído
entre deslizes desconhecidos.
Ninguém me orientou
para o pisar clandestino
deste solo movediço.
Nenhuma voz entoou
comigo o coro de lamentações
tardiamente orquestradas.
Nenhum desejo plantou
sementes que florescessem
entre os canteiros da estrada.
Estive só quase sempre.
E de solidão ressequido
atravesso os umbrais do tempo.
Meu corpo ainda se recobre
com a pele macerada dos prisioneiros
e carrega o peso das noites insones.
Mas minha mente é luz.
E eu ainda espero o poema
que nos ilumine séculos afora.
Acompanho o poeta Benedetti:
“Ainda há vida nos teus sonhos.
Cada dia é um novo começo!”
[Ilustração: D. Barton]
Leia também: 'Quando dezembro passar' https://lucianosiqueira.blogspot.com/2014/11/uma-cronica-para-descontrair_28.html
Um comentário:
Muito inteligente, processual nas suas linhas carrega as marcas na linha do tempo individual e de um coletivo
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