Pedregulhos no meio do caminho da Democracia no mundo
Enio
Lins
Nesta semana, acontecimentos chamam a atenção, por representarem riscos à Democracia. Há dois dias, completaram-se dois anos da derrota de um golpe no Brasil. E uma ação golpista, internacional, nas redes sociais foi desencadeada há três dias.
GOLPISMO AQUI
No caso brasileiro, a tentativa rendeu um prejuízo
imensurável para a tradição golpista nacional, pois pela primeira vez em sua
história de 525 anos, o Brasil está testemunhando o perfeito exercício dos
poderes constituídos, especialmente o Judiciário, em defesa da Constituição.
Agitada durante todo o quadriênio do desgoverno do falso messias, a ideia do
putsch teve seu ápice em 8 de janeiro de 2023, numa articulação criminosa entre
lideranças civis e militares de alta patente. Esse conluio se intensificou
depois da derrota eleitoral bolsonarista, na iniciativa orquestrada do cerco
patriotário aos quarteis, em todo país, a exigir um golpe militar. As redes
sociais tiveram um papel fundamental na proliferação dessa balbúrdia,
turbinando notícias falsas sobre a eleição, e divulgando apelos verdadeiros
para a abolição violenta do Estado Democrático de Direito, e implantação de um
regime ditatorial de direita comandado pelo ex-capitão. Combatidos, dentro das
quatro linhas da Constituição, os “gabinetes do ódio” tiveram reduzida sua
eficiência criminosa, mas, mesmo assim, obtiveram êxito parcial na mobilização
da intentona – que foi derrotada no mesmo dia de sua deflagração. Mas os
golpistas seguem ativos nas redes sociais, agitando seu ideal antidemocrático e
exigindo que as leis deixem de ser cumpridas.
GOLPISMO ACOLÁ
No caso americano, um golpe também foi tentado com
o objetivo de solapar a Constituição estadunidense e subverter o resultado da
eleição presidencial de 2020, que derrotou o então presidente Donald Trump. A
tentativa golpista nos Estados Unidos ocorreu no dia 6 de janeiro de 2021, com
hordas de trumpeiros invadindo (de forma inédita na história daquele país) o
Capitólio para impedir a proclamação de Joe Biden como vitorioso. Lá também foi
essencial o papel das redes sociais na enxurrada de fake news e de apelos
golpistas, mas a deformação institucional americana no quesito “liberdade de
informação” favorece a atuação dos gangsters midiáticos. Frente ao escândalo
ético (e não necessariamente ilegal, pelas confusas leis ianques), empresas
como Facebook e Instagram resolveram banir de suas redes cometedores contumazes
do delito da desinformação. Donald Trump dançou com suas contas canceladas.
Para quem teve coragem de praticar aquele cuidado ético, sobrou a perseguição
implacável dos defensores desse formato de crime. Trump criou sua própria rede
antissocial, a Trhuth, para delinquir à vontade. No ressurgimento eleitoral do
trumpismo, ao longo de 2024, o próprio Donald, na condição de candidato
favorito à Casa Branca, intensificou suas ameaças abertas a empresários como
Mark Zuckerberg. No dia 7 de janeiro, quatro anos depois da tentativa frustrada
de golpe trumpista, Mark Zuckerberg entregou os pontos. Ajoelhou-se, e prometeu
rezar pela cartilha autoritária.
E AGORA, JOSÉ?
Tem uma pedra no meio do caminho (democrático) no
mundo. Um pedregulho grande. Mas o mundo já destroçou calhaus maiores, como
Adolf Hitler e seu mago da Comunicação, Joseph Goebbels. Como diria o poeta, “Nunca me esquecerei desse
acontecimento/ Na vida de minhas retinas tão fatigadas/ Nunca me esquecerei que
no meio do caminho/ Tinha uma pedra/ Tinha uma pedra no meio do caminho/ No
meio do caminho tinha uma pedra”. Tinha. Mas no amanhã não terá mais, será
estilhaçada em mil e um pedaços.
instagram.com/lucianosiqueira65
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