A minha vida é um
barco abandonado
Fernando Pessoa
A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?
Ah! falta quem o
lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.
Morto corpo da ação
sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.
Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha.
[Ilustração: imagem gerada por IA]
instagram.com/lucianosiqueira65
Leia: Para o 2025 que começa https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/uma-cronica-de-urariano-mota.html
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