13 janeiro 2025

Palavra de poeta: Fernando Pessoa

A minha vida é um barco abandonado
Fernando Pessoa   


A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?

Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.

Morto corpo da ação sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.

Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha.

[Ilustração: imagem gerada por IA]

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Leia: Para o 2025 que começa https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/uma-cronica-de-urariano-mota.html 

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