Numa das primeiras viagens a São Paulo para uma reunião convocada pela direção nacional do PCdoB, no início os anos 80, já sob os auspícios da Anistia, enquanto contemplávamos da janela do avião que pousava em Congonhas aquela selva de grandes edifícios a perder de vista, tomávamos consciência da dimensão da tarefa de construir um partido que ainda nem havia reconquistado o direito de existência legal. “Como alcançar influência numa cidade gigantesca como essa, se ainda somos tão poucos? Como ter presença na cena política de um país-continente como o Brasil, se mal saímos da clandestinidade?”
Mais tarde, na sede do Centro de Cultura Operária, onde nos reuníamos, na Bela Vista, ouvindo nossas inquietações, o velho dirigente comunista João Amazonas procurou nos tranqüilizar:
- Camarada, seja otimista e pense dialeticamente, considere a evolução das contradições na sociedade, o surgimento de tendências novas. Se soubermos interpretá-las e agirmos corretamente, cresceremos, sim, e daremos conta do desafio. Estamos recuperando a liberdade e com ela a possibilidade de nos dirigirmos ao povo e de participarmos ativamente da vida política.
Hoje, pouco mais de vinte anos após, mudou muito a situação do país e o PCdoB é uma força em ascensão, com mais de 200 mil filiados e cerca de 100 mil militantes atuantes nas diversas áreas da luta popular e na esfera institucional.
Pois é pensando dialeticamente, como Amazonas ensinava, que encaramos 2007 com otimismo.
E não é pra menos, com o perdão dos analistas que pontificam na grande imprensa, sempre descrentes nas potencialidades do Brasil e da competência dos brasileiros. A economia voltará a crescer, talvez não a taxas tão elevadas quanto todos desejamos, mas a passos firmes e certeiros, bem diferentes da era FHC (e mesmo do primeiro governo Lula). Novos investimentos em infra-estrutura, dinamizadores das atividades econômicas e da oferta de postos de trabalho, redução gradativa das taxas de juro, expansão do crédito para incentivo da produção e para o consumo de massas, reforço do ensino fundamental e médio através do Fundeb, multiplicação de escolas técnicas em cidades-pólos de microrregiões dos estados, interiorização das Universidades federais, manutenção e ampliação dos programas sociais básicos – são, dentre outros, sinais promissores reiterados pelo presidente da República em sucessivos pronunciamentos.
Terá força política para tanto? Parece que sim, pois iniciará o segundo mandato cercado de amplo apoio popular e de alianças partidárias que lhe propiciarão consistente base de sustentação parlamentar, enquanto as oposições permanecerão desnorteadas por algum tempo.
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