22 janeiro 2007

O Choque e a Gestão

por Eduardo Bomfim

O clima de insatisfação que se espalha por todo o estado de Alagoas é decorrente da estratégia administrativa adotada pelo novo governo empossado em primeiro de janeiro, baseada em conceitos já aplicados em nosso país, que resultaram em paralisia econômica, privatizações lesivas, além de outros efeitos danosos.

A justificativa do governo possui base doutrinária conservadora, penaliza os setores assalariados da população, em particular os servidores públicos estaduais, provoca crises em várias áreas produtivas, atingindo a grande maioria da população, como um efeito em cascata.

Essas medidas de impacto anunciadas pelo governo não atingem o ramo de atividade que acumula a esmagadora parcela da riqueza em Alagoas: a agroindústria do açúcar.

Penaliza os assalariados, a pequena e média indústria, a agricultura, os profissionais liberais, os comerciantes que lidam diretamente com os servidores públicos, gerando um círculo danoso a um expressivo contingente da economia alagoana. Fala-se em “choque de gestão” para salvar Alagoas de uma crise muito grave. Mas as causas da dívida pública e desacertos na economia, reconhecidas por todos, não foram originadas pelo aumento dos servidores públicos, como pretende induzir o governo.

São fruto, em parte, das políticas públicas de arrocho fiscal impostas aos Estados da federação durante mais de oito anos e cuja orientação provém dos tecnocratas do Fundo Monetário Internacional, FMI. As conseqüências negativas estão aí há um bom tempo.

Ademais, não constitui segredo para a maioria da sociedade o conhecimento da sonegação de impostos por parcelas de setores da agroindústria, impedindo o aumento da receita do Estado. Há outras causas de origens estruturais, assim como descontroles conjunturais.

No entanto, a iniciativa do governador em seguir o conselho de Maquiavel ao Príncipe, aplicando medidas impopulares no início do governo, deveria ser adotada contra os que acumulam grandes somas do capital. Seria uma medida de coragem cívica e de impacto econômico extremamente positivo.

Caso contrário, preserva-se quem mais deve e busca-se resolver o impasse pelos caminhos insolúveis, porque a crise não reside nos salários dos servidores. A renda continuará concentrada, aumentando as disparidades sociais. Gesta-se uma crise popular explosiva. A chicotada será no lombo do mais fraco. É a antiga fórmula revestida de um vocabulário modernoso.

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