21 novembro 2007

"Cidade é como gente"

De José Amaro Santos da Silva, prolfessor da UFPE, amigo e militantem sobre o meu artigo Reforma para a cidade amada(*):

“Gosto da sua maneira poética de se preocupar com as cidades.

As cidades foram construídas, evidentemente, a partir das mentalidades das gentes. Gente política, gente culta, gente inculta, gente preconceituosa, racista e gentes sérias, humanas, de pensamento igualitário, enfim, todas as gentes com sonhos, com esperanças, com desejos os mais diversos e, se comparados aos burgos de todos os tempos e lugares, talvez, venhamos chegar à vossa conclusão de que a "Cidade é como gente".

Não foi em vão a poética frase de João Cabral de Melo Neto quando afirmou que “é do sonho dos homens que nasce uma cidade", ao refletir sobre a criação da sua querida Recife.

Quanto à questão dos conflitos e desigualdades citada em vossas reflexões, isso se dá pela falta de respeito mútuo entre as criaturas humanas, onde impera o egoísmo e os interesses menores, e ainda a falta de planejamento de parte daqueles que administram as cidades, quando partem para criar coisas desordenadamente, como fizeram alguns prefeitos, no passado, na cidade do Recife.

Alguns administradores, no afã de deixar uma placa comemorativa, derrubaram árvores, às vezes sagradas para alguns segmentos culturais religiosos, destruíram monumentos, igrejas, a exemplo da dos Martírios, do Arco de Santo Antônio, entre tantos outros belos monumentos, testemunhos de um passado histórico da cidade. Dessa forma, apagaram a história e a cultura, que ilustrariam tantas outras criaturas que vieram e hão de vir a habitar a orbi que foi construída em grande parte pelos ideais dos holandeses que souberam domar águas e construir uma cidade, mesmo não tendo sonhos...

O desordenamento das cidades, que é uma realidade, e as possibilidades de uma retomada lógica e humana de reconstrução requerem um projeto de reforma urbana, conseqüente, e, para dar curso a idéias de uma reforma, se faz necessário mudar as mentalidades, ter um bom lastro de recursos financeiros porque nem sempre o sonho vai fazer as coisas acontecerem. Apoios, solidariedades, apreços de todos quantos demonstrem ter amor, em princípio, pelo lugar, conscientes de que o tempo a cumprir não tem medida, pois, muitos que iniciem hoje tal empreitada há de ter consciência plena que o usufruto de tal empreendimento estará para aqueles que, no futuro, possam se orgulhar dos que tiveram a coragem de ousar, ao olharem pelo retrovisor da história.

É isso."
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(*) Ver abaixo postagens anteriores.

Um comentário:

maria santos suindara disse...

Linda a forma poética da descrição da cidade do Recife feita por José Amaro Santos. Suas palavras representam anseios de muitos, creio.
É função da sociedade cultivar o desejo de bem querer, cuidando do lugar onde vive e preocupando-se conosco e o que devemos deixar para os nossos filhos, netos, enfim, para a posteridade.
Vejo com muita tristeza a maneira como algumas pessoas jogam papéis e
objetos no chão, pelas janelas dos veículos, é como estivessem despindo-se, derruba-os no chão formando um rastro de sujeira, sem o menor constrangimento.
O calçadão e a praia de Boa Viagem constituem dois tempos: pela manhã estão impecavelmente limpos, durante a tarde tornam-se um verdadeiro horror! O cheiro de urina, fezes,lixo e incrivelmente, onde temos a cada dois metros, mais ou menos, há um ou mais cestos de lixos. Na areia, as pessoas e cadeiras de praia ficam cercadas por sujeiras.
Sou moradora de Boa Viagem, e na última quinta-feira, ao pedir a uma senhora para recolher o cocô de seu cachorro, a senhora disse-me que eu deveria comer as fezes do animal. E não as recolheu. Bastava olhar para o lado e ver folhas grandes caidas das árvores, e com boa vontade, recolhê-las.
Lamentavelmente é esse tipo de pessoa que somos obrigados a conviver e vê-las destruindo algo já feito.
Um abraço e que todos os nossos desejos aconteçam!
Mariá Santos Suindara.