O inevitável confronto de projetos divergentes
Luciano Siqueira
Gasta-se papel e tinta, e outros recursos mais sofisticados nas demais mídias, para discutir a hipotética estratégia de José Serra, candidato do PSDB à presidência, de evitar a todo custo confrontar-se com Lula, detentor de índices recordes de aprovação popular. Ele preferiria mirar a ex-ministra Dilma Roussef, esta sim, a adversária.
De outra parte, torna-se público o constrangimento, nas hostes tucanas, provocado por aparições recorrentes do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como líder do partido de Serra, que atraem o debate para a indesejada (pelos tucanos) comparação entre os seus oito anos de governo e os quase oito anos de Lula.
As coisas postas assim parecem reduzidas a simples jogadas de marketing ou de tática eleitoral. Mas o buraco é mais embaixo. O que virá à tona, inevitavelmente, é o confronto entre dois projetos políticos diametralmente opostos, experimentados na história recente do País e devidamente compreendidos por parcelas expressivas do eleitorado.
É aí onde reside o perigo, percebe com nitidez o candidato Serra. E também onde nasce uma espécie de teia onde se vê envolto de onde não tem como sair. Como frisou recentemente o pesquisador Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi, o dilema de Serra é que quando ele se apresentou como candidato da continuidade, na sucessão de FHC, a maioria dos brasileiros queria a mudança. Agora que ele se apresenta como mudança, a maioria dos brasileiros aprova os dois mandatos de Lula e deseja a continuidade.
Mudança ou continuidade de quê? De projetos para a Nação. Daí a razão do discurso afirmativo da ministra Dilma e da tentativa de tangenciar essa questão nodal por parte de Serra.
Na solenidade de desincompatibilização dos ministros que disputarão cargo eletivo em outubro, Dilma destacou um elemento central diferenciador dos dois projetos – o papel do Estado. Nos governos tucanos, acentuou, prevalecia “o Estado do não. Não tinha planejamento estratégico, não tinha aliança com o setor privado, não incrementou investimento público, não financiou investimento privado”. Com Lula, contrapôs, o Estado “não se omite” e “coloca no centro de suas preocupações o direito das cidadãs e cidadãos do Brasil".
Serra, por seu turno, a despedir-se do governo de São Paulo, tentou escapar desse debate enaltecendo uma suposta eficiência de gestão com controle dos gastos públicos e inaugurando uma frase que se presume deseja ter como bordão em sua campanha: “o Brasil pode mais”.
Bom, se o País pode fazer mais do que está fazendo com Lula, nada melhor do que a continuidade das forças que ora governam para assegurar esse plus. Ou seja, não há como fugir ao confronto de projetos.
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