24 junho 2010

Bom dia, José Almino de Alencar


Canção do exilado


Se eu voltar a lamber as botas do passado,
Se eu voltar a chorar a memória da memória:
que me seque a mão direita!

Quando o teu calor vier
pelo vento tardio, deste verão tão puro
e corromper o meu tato;
e o roçar da tua nuca, me fizer tremer.

Se eu assobiar a tua mínima canção,
se eu procurar a tua boca e o ruído das tuas ruas
estrangular o meu coração: que me cole a língua ao paladar!

Ó devastadora filha de Babel,
feliz quem devolver a ti
o mal que me fizeste!

Não pedirei mais
perdão às virtudes do passado.
Repetirei, em desassombro
se eu lembrar de ti, Jerusalém
com os que diziam:
"Arrasai-a!
Arrasai-a até os alicerces!"

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