Pode mais, pode menos
Luciano Siqueira
Ensina a experiência que o ponto de partida de uma candidatura a cargo majoritário é estar bem situada politicamente. O que se traduz, via de regra, no slogan escolhido.
Serra adota o slogan “O Brasil pode mais”. Cá na província, o senador Jarbas, candidato a governador pelo PMDB de oposição, copia: “Pernambuco pode mais”. E acrescenta, na tentativa de escapar da influência de Lula (o governo tem a aprovação de mais de oitenta por cento dos pernambucanos, conforme pesquisas recentes): “Pernambuco vai mudar de amigo”, sugerindo que Serra, eleito, dará tratamento ao estado semelhante ao dado por Lula.
Um desmantelo, de Jarbas e de Serra. E não será por falta de marqueteiro, nem de experiência dos dois candidatos. O problema é que ambos estão situados politicamente na contra mão, e aí reside o ponto de partida para o fracasso eleitoral.
Serra, por mais que tenha tergiversado inicialmente (agora já não tenta mais), é candidato de oposição, da mudança, portanto - quando a tendência evidente da maioria da população é favorável à continuidade dos rumos que o País vem trilhando sob o governo Lula, o que alimenta o crescimento constante da candidatura da ex-ministra Dilma. Aliás, pela segunda vez o tucano entra na contra mão: em 2002, quando enfrentou Lula e perdeu, se apresentou como candidato da continuidade quando e eleitorado queria mudar.
Jarbas, em âmbito local, cuja candidatura parece fruto do impasse “se ninguém topa, vai tu mesmo” nas hostes oposicionistas, que lidera, vê-se envolto num mar de contradições e atropelos. Tal como Serra, que fez convenção nacional sem candidato a vice, arrasta-se em negociações frustradas para arranjar o segundo candidato ao Senado em sua chapa, desde que o atual senador Sérgio Guerra (PSDB) fugiu da parada. Pior: insiste que enfrentará o governador Eduardo Campos (PSB), franco favorito à reeleição, comparando os oito anos de seu governo com os atuais quase quatro anos de Eduardo. Ou seja, pretende convencer o eleitor olhando pelo espelho retrovisor.
A comparação lhe é flagrantemente desfavorável. E quase ninguém escolhe governador olhando para trás, mas interessado em saber o que o candidato se propõe a fazer.
Mais ainda, Jarbas – ao lado de José Agripino, Artur Virgílio e outros espécimes da tropa de choque da direita – é agressivo opositor do governo e do presidente Lula, a quem frequentemente agride com acusações de baixo nível. Pois não é que Serra, quando aqui esteve justamente para selar a candidatura de Jarbas, saiu-se com essa: “Lula está acima do bem e do mal”. Quem tem um aliado desses não precisa de adversário...
Por essas e outras, sobretudo pela falta de um discurso programático consistente e factível, nem Serra nem Jarbas podem mais. Podem muito menos, como certamente as urnas dirão.
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