14 junho 2010

Meu artigo semanal no site da Revista Algomais

Da ficha de leitura manuscrita ao Twitter

Luciano Siqueira


Sempre me fascinaram as palavras, desde a escola primária. A magia de juntar palavras e traduzir a ideia e o sentimento. Brincar com elas, mudar a ordem e construir diferentes sentidos para a frase original. Mesmo com a simplória sentença “Ivo viu a Uva” das rudimentares cartilhas de alfabetização.

Daí também o gosto pela leitura. E pela anotação do lido e do imaginado, em fichas manuscritas.

Adolescente, vindo morar no Recife (a família se transferira de Natal, RN), ganho a sorte grande: o convite de Paulo Rosas, psicólogo, professor da Universidade Federal de Pernambuco, meu tio: cuidar de sua biblioteca. Com uma tarefa básica e a liberdade de ler o que quisesse.

A tarefa básica: transformar em fichas de leitura, datilografadas em papel cartão, grifos e anotações à margem que ele fazia nos livros que lia - não apenas sobre Psicologia e Educação, focos de sua atuação como professor e pesquisador; seu raio de visão era vasto e múltiplo, incluindo a boa literatura brasileira e universal. Para mim, um aprendizado precioso do modo de sistematizar idéias e guardar conhecimento.

A liberdade de ler não era assim tão irrestrita. Aquela coleção de capa dura e papel bíblia eu ainda não tinha maturidade para ler, disse-me. O mesmo que botar uma linguiça na boca de um cachorro e esperar que ele a rejeite. Comecei a ler exatamente aqueles livros, claro que entendendo quase nada das Obras Escolhidas de Freud, em espanhol.

Hoje, primeira década do Século XXI, onde se informatizam até os desejos mais primários do ser humano, já não faço fichas manuscritas nem datilografadas. Desde que o companheiro de lutas e amigo Eduardo Bonfim me apresentou a maravilha do computador (eu resistindo, apegado ao papel e à máquina de escrever), e Neguinha, minha filha, passou a usá-lo em casa para dar conta do curso de Arquitetura, cedi à modernidade. Mas continuei fazendo minhas fichinhas de leitura, agora digitadas.

Hoje já não me espanto quando alguém me chama de “avançado” porque estou de corpo e alma na Internet. Afinal tenho evoluído no uso de ferramentas diversas para anotar, refletir, formular ideias ou simplesmente alimentar meus sonhos. Mantenho o blog pessoal http://www.lucianosiqueira.blogspot.com/,  comunico-me pelo www.twitter.com/lucianoPCdoB  e pelo site http://www.lucianosiqueira.com.br/  estou no Orkut e no Facebook e desenvolvo intensa correspondência através de e-mails.

Certamente por isso outro dia um amigo me veio convencer da utilidade do livro digital, certo de que aqui encontraria guarida para seus argumentos. E se surpreendeu com a minha recusa: “Peraí, rapaz, estou na Internet, mas não me tire o prazer de ler meus livros!”

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