07 julho 2013

A vida do jeito que é

O merecido convescote
Marco Albertim, no Vermelho

 
O grito das ruas, a energia dos moços se fez refletir no ato de posse da nova diretoria da UEP. Manifestação ruidosa, feito o eco ainda sonoro das cem mil pessoas que ocuparam o centro do Recife, dia 20 último. Tem 21 anos a moça que presidiu a reunião; o rosto miúdo, sem moldura em volta, posto que os escuros cabelos não ornam a pele trigueira, seguem sem ostentação os meneios da cabeça.

Melka Pinto é a nova presidente da União dos Estudantes de Pernambuco. À semelhança de sua congênere na Bahia, Marianna Dias, presidente da UEB, um ano a mais que uma vintena sorvendo uma paixão e outra, até deixar-se enredar nos embates da luta de classes.

Tauã Fernandes, cujos dois últimos anos deu-os à UEP, por certo deixou-se instilar pelos olhos fogosos dos moços da União da Juventude Socialista; e da UEP com feições novas, recém-nascidos das ruas ainda prenhas. Tauã, rosto tenro encoberto pelo desleixo remido da barba rala, entregou o microfone a Melka; o microfone e o espólio de seus dois anos de gestão.

Melka, já miúda na compleição - tão miúda que mal se afigurara entre os cem mil que se fizeram donos da Conde da Boa Vista -, deixou-se espremer na calça jeans, na blusa de mangas curtas, branca, exibindo sem narcisismo o nome de Cândido Pinto. O trigo do rosto pareceu enfeitar-se quando expôs, ela, a alvura dos dentes cerrados. A candura do riso ateou fogo nos 98 assentos do auditório da Faculdade de Medicina da UPE; ateou e intimou os onze convidados a sentar junto à mesa do palco.

"Você tem um grande desafio pela frente", disse Carlos Calado, reitor da UPE, primeiro a saudar Melka com o uso do microfone - "... mas não está sozinha. Não se intimide nem se amedronte!" Ao lado da presidente, viu a pequenez de seu rosto se alevantar com frequência para absorver o apoio vindo de outra geração. As cãs do reitor infundiram severidade ao ruído travesso dos moços.

Padre Pedro Rubens, reitor da Unicap, não se amiudou na baixa estatura, destilou indignação com a carência de muitas escolas em cidades distantes. Do tumulto das multidões nas avenidas, observou que "os vândalos estão expressando a violência de que foram vítimas." Para garantir a democracia, arrematou, "é preciso saber conviver com a diferença de ideias."

O prefeito Geraldo Julio, inda que ausente, mandou o recado por seu vice Luciano Siqueira. Quer ser o primeiro prefeito de Pernambuco a receber toda a diretoria eleita da UEP. Siqueira advertiu para o perigo da imprensa de direita, que distorce os fatos a cada edição sobre os episódios de rua. Defendeu as reformas constantes do programa de seu partido - Agrária, Tributária, Urbana, dos Meios de Comunicação, da Educação, da Política.

O prefeito de Igarassu, Mario Ricardo, lembrou que sua cidade recebe uma escola de formação técnica, "graças à luta dos estudantes." Juntou-se a ele o presidente da OAB, Pedro Henrique - "Que a polícia não hostilize os estudantes", ponderou.

Manuela Braga lourejou os olhos de muitos com a luz de seus cabelos: "Melka representa o sonho de milhões de jovens pernambucanos. Assume a UEP num momento de ascensão da luta de massas." Feito uma bolchevique na beira do cais de Moscou, foi definitiva - "Só há dois lados: os que querem avançar x os que querem retroceder."

Melka Pinto foi a última a discursar; não discursou, conversou com todos feito uma aluna prosaica, numa roda de amigos num intervalo de aulas. Do lado de baixo do palco, junto aos 23 membros da diretoria da UEP. O sorriso deu conta da disposição, do viço para a luta.

Depois, o convescote, o merecido convescote.

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