Luciano Siqueira
Publicado no Blog da revista Algomais
O Brasil
progride e alcança melhoria importante das condições existência dos que vivem
do trabalho, nos últimos dez anos. Mas permanece muito desigual.
Uma das
faces contundentes da desigualdade se revela no mercado de trabalho – no caso,
de gênero e raça – expressão nua e crua da discriminação.
Dados divulgados
pelo jornal O Globo, colhidos junto ao IBGE indicam que mulheres e negros são
mais de 60% entre os que estão desempregados há mais de um ano. Isto apesar do caráter
inclusivo que tem marcado a evolução recente da economia brasileira, que roda
com taxa de desemprego menor que 6% - o que equivale tecnicamente ao pleno
emprego na maioria das categorias profissionais.
Analistas consideram que
para mulheres e negros a conquista de um posto de trabalho é sempre mais
difícil do que para outros grupos sociais; e a situação se agrava quando se
reduz o ritmo da oferta. Segundo a reportagem, entre os trabalhadores que
buscam emprego há menos de um ano, 53,9% são mulheres e 53,3%, negros. Percentuais
que se elevam para 63,2% e 60,6%, respectivamente, entre os que estão
desempregados há mais de um ano.
A economista Lúcia
Garcia, coordenadora das Pesquisas de Emprego e Desemprego do Dieese, chama a
atenção para o fato de que “quanto mais tempo a pessoa fica desempregada, mais
tempo ela tende a ficar desempregada”. Isto quer dizer que quanto menor a taxa
geral de desemprego, mais numerosos são negros e mulheres entre os
desempregados de longo prazo.
Ainda de acordo com o Dieese,
em 1999, quando a taxa de desemprego estava perto de 20%, negros e mulheres
eram cerca de metade dos trabalhadores sem emprego há mais de um ano. Em 2012,
quando a taxa de desocupação foi de 10,5%, nas contas do Dieese, eles superavam
60% dos desempregados de longo prazo.
Esses números expõem uma
fratura social inadmissível e reforçam a absoluta necessidade do recorte de gênero
e de raça no incremento do crescimento econômico. Ou seja: se buscamos
desenvolver o Brasil com valorização do trabalho, distribuição de renda e sustentabilidade
econômica e ambiental, é preciso que o façamos concomitantemente empenhados na
redução das desigualdades sociais – inclusive mediante o combate à
discriminação da mão de obra feminina e negra.
Isto nos impõe a peleja
em duas frentes distintas e entrecruzadas. Uma, estabelecendo mecanismos
concretos que favoreçam o acesso de mulheres e de negros ao mercado de trabalho,
de caráter afirmativo. Outra, enfrentando o debate no terreno das ideias, vez
que a discriminação comporta vieses de classe e culturais e ideológicos
arraigados na sociedade brasileira, difíceis de extirpar. Tarefa dos que
governam com compromisso popular e democrático; e do movimento social, dos
sindicatos em particular.
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